Vindo de ganho de 1,25% na sexta-feira, o Ibovespa manteve variação contida nesta primeira sessão de semana que trará novos dados de inflação nos Estados Unidos, no momento em que o mercado tenta auscultar sinais do Federal Reserve quanto aos juros americanos - e os emitidos hoje vieram no sentido de novos aumentos nos custos de crédito na maior economia do globo. Apesar do avanço moderado que prevaleceu no fechamento de Nova York, e mais cedo também nos principais mercados da Europa, a cautela se impôs na B3, que operou em baixa desde a abertura, a 118.897,42 pontos.
Ao fim, sem catalisadores domésticos que empurrassem o Ibovespa em outra direção, o índice mostrava perda de 0,80%, aos 117.942,44 pontos, com mínima aos 117.814,49, em variação de pouco mais de mil pontos ante a abertura. O giro foi de apenas R$ 18,1 bilhões nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa passa a terreno negativo (-0,12%), mas no ano ainda sustenta avanço de 7,48%.
"Dados de inflação na China - estável para o consumidor e em queda para o produtor - corroboraram a percepção de desaceleração da atividade no país asiático, que se mantém no foco de atenção dos investidores, especialmente em mercados com exposição a commodities, como o Brasil", diz Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos. Assim, entre as ações de maior peso no Ibovespa, destaque para a queda de 1,53% em Vale ON nesta segunda-feira, em dia de retração de 3,46% para o minério de ferro em Dalian, na China, e de quase 4% em Cingapura.
O desempenho de Petrobras chegou a contribuir para mitigar o efeito negativo no Ibovespa, mas ao final as ações da empresa não mostravam sinal único, com a ON estável e a PN em leve alta de 0,17%, apesar do recuo em torno de 1% para o Brent e o WTI nesta segunda-feira. Na ponta negativa do índice nesta abertura de semana, destaque para nomes do varejo, como Renner (-6,46%), Magazine Luiza (-4,09%) e Via (-3,77%). No lado oposto, Azul (+3,11%), Ambev (+1,08%) e Raízen (+0,95%).
No fechamento, o índice de consumo (ICON -0,94%), com exposição ao ciclo doméstico, teve desempenho semelhante ao do índice de materiais básicos (IMAT -0,87%), correlacionado a preços e demanda formados fora do Brasil. Entre os grandes bancos, as perdas do dia chegaram a 1,84% (BB ON) no fechamento, à exceção de Bradesco (ON +0,07%, PN +0,06%).
"Nos Estados Unidos, as bolsas americanas operaram entre perdas e ganhos, em semana que marca o início da temporada de resultados do segundo trimestre. Empresas do setor financeiro como BlackRock, JPMorgan Chase, Wells Fargo e Citi irão divulgar balanços no decorrer da semana", diz Vanessa Naissinger, especialista da Rico Investimentos.
Por lá, a presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, afirmou hoje que não acredita que os juros americanos estão restritivos o suficiente, de forma que deverão subir mais para conseguir controlar a pressão dos preços e trazer a inflação de volta à meta de 2%. Falando em evento na Universidade da Califórnia, ela destacou ainda que o Fed está mais perto do fim do ciclo de aperto monetário do que do início, mas ressaltou que o banco central americano está comprometido em trazer a estabilidade de preços de volta.
Por outro lado, nos Estados Unidos, as expectativas de inflação de um ano caíram pelo terceiro mês consecutivo, de 4,1% em maio para 3,8% em junho, segundo pesquisa do Federal Reserve de Nova York divulgada nesta segunda-feira. Foi a menor leitura desde abril de 2021, e três pontos porcentuais menor que as de junho de 2022.
Por sua vez, a presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, disse que é cedo para comemorar o fim da inflação alta nos EUA, e que as projeções que defendem mais dois aumentos de juros pela autoridade monetária até o fim de 2023 são "realistas e razoáveis". O aperto monetário, segundo ela, aparenta estar na etapa final.
Aqui, em outro ponto de destaque na agenda da semana, os investidores conhecerão amanhã, antes da abertura dos negócios, o IPCA de junho.
Em relatório, a equipe de pesquisa global do Bank of America (BofA) destaca que a América Latina está em "posição privilegiada" em comparação ao restante dos mercados emergentes. "Há pouca exposição a conflitos geopolíticos, e Brasil e Chile podem estar entre os primeiros países a cortar juros", observa o BofA, acrescentando que a inflação em ambos já está em rápido declínio. "Os mercados de ações no Chile têm avançado desde o quarto trimestre de 2022; no Brasil, vêm em recuperação desde abril", nota o banco americano.
Mas o BofA destaca também que, para o Brasil, uma questão-chave é quem estará na ponta compradora daqui para frente. "Vimos fracas entradas de fluxo estrangeiro durante a maior parte desse rali de recuperação, e os fundos de ações locais continuam a apresentar resgates desde que os fluxos chegaram a um pico em setembro de 2021", acrescenta o banco, no relatório.
Ainda assim, o BofA observa que o rali desde o fim de abril trouxe valorização de 17% para o Ibovespa, comparado a um avanço médio de apenas 2% para os mercados emergentes, em dólar.
"A inflação abaixo do esperado contribuiu para declínio dos juros e para o prosseguimento do movimento de recuperação das ações, no Brasil", acrescenta o relatório, em que o BofA observa também que o Ibovespa, excluindo commodities, está sendo negociado agora com apenas 5% de desconto em relação ao padrão histórico, comparado a um desconto de 26% nas mínimas de 2023.
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