O Ibovespa iniciou junho retomando a linha dos 110 mil pontos, que havia prevalecido na segunda quinzena de maio nos fechamentos entre os dias 18 e 29. Hoje, surfando o PIB acima do esperado para o primeiro trimestre, e favorecido também pela retomada do apetite por risco no exterior - que impulsionou em especial os preços de commodities como o minério de ferro e o petróleo -, a referência da B3 subiu 2,06%, aos 110.564,66 pontos. Foi o maior ganho para o índice em quase um mês, considerando o encerramento de 5 de maio, então em alta de 2,91%.
Nesta quinta-feira, oscilou entre mínima de 108.334,59 e máxima de 110.745,40, renovada em direção ao fechamento, tendo saído de abertura aos 108.339,14 pontos. O giro foi de R$ 30,2 bilhões, em recuperação como ontem. Na semana, o Ibovespa ainda cede 0,31%, mas volta a acumular leve ganho no ano, de 0,76%.
Com a alta acima de 2% nesta quinta para o petróleo, que vem de sequência negativa como o minério - hoje também em recuperação, superior a 5% em Dalian (China) -, o Ibovespa iniciou junho quebrando série negativa de três sessões, quando havia sido contido em especial pelo mau desempenho das ações de commodities. Petrobras ON e PN encerraram o dia em alta de 2,91% e 3,22%, enquanto Vale ON avançou 2,12%. Outro setor de peso, os grandes bancos obtiveram ganhos até 1,82% (Santander) na sessão.
Na ponta do Ibovespa, Locaweb (+11,88%), CVC (+7,40%), B3 (+7,36%) e Magazine Luiza (+6,84%), com Energisa (-3,27%), JBS (-2,32%), TIM (-1,43%) e BB Seguridade (-1,33%) no canto oposto.
"Tivemos hoje um fluxo maior e mais positivo para nosso mercado, com boas surpresas no noticiário. Após alguns dias bem negativos, houve melhora de humor com relação à China, que vinha sofrendo ultimamente com dados ruins sobre a atividade industrial, afetando as commodities. Assim, após quatro dias de queda de preço, o minério de ferro hoje subiu mais de 5% por lá, com um ambiente parecendo agora menos hostil à demanda pela matéria-prima, após uma nova leitura de PMI industrial na China, da Caixin, mais favorável do que a do dia anterior, que apontava contração", diz Bernard Faust, operador da mesa de renda variável da One Investimentos.
"O dia lá fora foi de tomada de risco, com o dólar perdendo espaço para moedas de referência como euro e libra, e também para as de emergentes como o real, resultando também em recuperação para os preços das commodities", diz João Piccioni, analista da Empiricus Research, chamando atenção para o avanço dos principais índices de ações em Nova York (Dow Jones +0,47%, S&P 500 +0,99%, Nasdaq +1,28%) nesta véspera de divulgação do relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em maio. O dólar fechou em baixa de 1,31%, a R$ 5,0064.
Na sessão, o cenário externo também foi favorecido pela aguardada aprovação do aumento do teto da dívida federal pela Câmara dos Representantes, nos Estados Unidos, observa Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, mencionando fator que trouxe alívio especialmente ao câmbio, com efeito também para as commodities e para as ações correlacionadas a matérias-primas.
No cenário doméstico, a leitura acima do esperado para o PIB brasileiro no primeiro trimestre, em alta de 1,9%, ante mediana de projeções a 1,2% no levantamento do Broadcast, levou uma série de instituições financeiras a revisar estimativas para o crescimento econômico em 2023. "Prévias sobre a atividade, como o IBC-Br, já vinham bem, e agora muitas casas começam a refazer as contas para um PIB fechando o ano perto de 2%, com o Brasil na contramão do mundo, que ainda puxa juros e pisa no freio", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.
O desempenho nos primeiros três meses do ano foi puxado em especial pelo forte avanço do agro no intervalo, conforme os dados divulgados nesta manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Sabíamos que o PIB do primeiro trimestre seria bom, mas de fato veio acima do esperado, puxado pelo lado da oferta, do agro, como se antecipava, especialmente pelos resultados da soja, muito positivos e concentrados nessa época do ano. E tinha base de comparação fraca, por questões climáticas no ano passado, que resultaram em quebra de safra, e agora com estimativa de produção recorde", diz Patrícia Krause, economista-chefe para América Latina da Coface.
Ela destaca, por outro lado, o enfraquecimento do consumo das famílias, a virtual estagnação do consumo público e uma queda maior da formação bruta de capital fixo, sinais negativos para a demanda e a economia doméstica. "Uma fraqueza da atividade doméstica notada inclusive no setor externo, pela forte queda das importações", acrescenta a economista.
"Primeiro trimestre costuma ser um ponto fora da curva para a economia, por causa do efeito do agro", aponta Eduardo Cavalheiro, fundador e gestor da Rio Verde Investimentos. "Estamos em um momento melhor, com dados de inflação mais contidos, e agora, o crescimento do PIB - além de votações no Congresso que têm ido contra o governo e a favor do mercado", acrescenta o gestor, destacando o dia com a correlação desejada: Bolsa em alta, juros e dólar em queda.
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