O Ibovespa refugou no fim da tarde desta quinta-feira, 10, piorando em relação à Nova York, quando parecia a caminho de interromper sequência ruim, agora de oito perdas diárias, que coincidiu com o início de agosto. Nesta quinta, resistia em leve alta até pouco antes das 16h30, mas passou a testar baixa em direção ao fechamento do dia, igualando em extensão a série negativa de oito sessões, entre 3 e 14 de junho de 2022. A virada veio às 16h21, quando o Ibovespa assinalava -0,01% pela primeira vez na sessão.
Ao fim, mostrava mais uma leve perda, de 0,05%, aos 118.349,60 pontos. Mais cedo, a sessão era pautada desde o exterior por estabilização na percepção de risco - na Ásia como na Europa e, em menor grau, nos Estados Unidos - em dia de atenção voltada a novos dados sobre a inflação norte-americana, após a decepção de quarta-feira com a deflação vista na China. Nesta quinta-feira, apesar da piora observada no fechamento, o índice oscilou em margem relativamente estreita, entre a mínima (118.112,68) e a máxima (119.438,15), saindo de abertura aos 118.412,19 pontos.
Com giro financeiro a R$ 23,7 bilhões na sessão, o Ibovespa acumula perda de 2,95% no mês, cedendo 0,97% na semana - no ano, o índice avança 7,85%. Apesar da série negativa acumulada neste primeiro terço de agosto, o Ibovespa não se distanciou muito de níveis recentes, com o fechamento desta quinta-feira ainda correspondendo ao menor patamar desde 20 de julho, então aos 118.082,90 pontos.
"Após sete perdas, a Bolsa subia timidamente hoje, acompanhando a alta moderada dos mercados nos Estados Unidos que chegou a ser revertida também perto do fechamento, contudo positivo ao fim; Dow Jones +0,15%, S&P 500 +0,03%, Nasdaq +0,12%, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. "Havia mais impulso pela manhã, com a divulgação do índice de inflação por lá, o que ajudou os investidores a pressupor o fim do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos - mas perdeu fôlego, ao longo do dia, a resposta aqui no Brasil", acrescenta o analista, destacando, na sexta, a expectativa pela inflação doméstica, do IPCA, o que pode trazer volatilidade à B3 e também à curva de juros. "Dia de timidez e espera pelo dado de amanhã."
Nos EUA, o índice de preços ao consumidor (CPI) teve alta de 0,2% em julho, na margem, leitura que veio em linha com o consenso de mercado. Em 12 meses, o índice acumula alta de 3,2%, levemente acima do mês anterior, observa Gustavo Sung, analista-chefe da Suno Research. "A batalha não está vencida. A inflação está desacelerando nos Estados Unidos, mas alguns grupos merecem atenção. E o mercado de trabalho precisa continuar dando sinais de arrefecimento", acrescenta Sung.
Nesse contexto, a leitura sobre a inflação norte-americana tende a subir no mês seguinte, agosto, como resultado do recente aumento nos preços da gasolina, e o Federal Reserve, assim como os investidores, devem manter o foco no núcleo - métrica que exclui fatores voláteis, como os preços de alimentos e de energia -, aponta em nota Greg Wilensky, head de renda fixa da Janus Henderson para Estados Unidos. "Apesar de o núcleo da inflação ter caído em relação a seus níveis mais altos, ainda está bem acima da meta de 2% do Fed para a inflação de longo prazo", acrescenta.
Ainda assim, mesmo antes da divulgação do dado sobre os preços ao consumidor nos Estados Unidos, o índice VIX, uma métrica de volatilidade com base em opções sobre o S&P 500, considerada como um termômetro do medo em Wall Street, mostrava abrandamento desde cedo, em queda então de cerca de 1%, mostrando propensão dos investidores a risco na sessão, aponta Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos.
Com a moderação da percepção de risco desde o exterior, na B3 o desempenho do dia era puxado pelas ações de grandes bancos - que costumam estar entre as preferidas do investidor estrangeiro, assim como as de commodities -, cujo desempenho negativo no mês tem excedido, em geral, o próprio recuo do Ibovespa, com perdas que chegam a superar 6% em agosto, no caso das ações do Bradesco (ON -6,47%, PN -7,09% no intervalo). Nesta quinta, além de Bradesco (ON +1,09%, PN +0,85%), destaque também para Itaú, embora também muito moderado perto do fechamento (PN +0,33%), enquanto Banco do Brasil (ON) subiu 0,51%, após balanço trimestral divulgado na noite de na quarta.
À exceção de Vale (ON -1,18%) - enfraquecida por temores quanto à demanda chinesa por matérias-primas, em meio à tibieza da atividade econômica por lá -, o dia vinha sendo de estabilização para o setor de commodities, mas o IMAT também refugou no fechamento (sem variação). Devolvendo os ganhos vistos mais cedo, as ações da Petrobras encerraram nesta quinta sem sinal único, com a ON em leve baixa de 0,03% e a PN ainda em alta de 0,56%.
Na ponta do Ibovespa, destaque para Azul (+9,83%), após os resultados trimestrais, à frente de Braskem (+6,84%), Gol (+6,27%) e Hapvida (+6,05%) na sessão. No lado oposto, Soma (-7,68%), 3R Petroleum (-4,96%), Rede D'Or (-4,92%) e Magazine Luiza (-4,04%). As ações correlacionadas ao ciclo doméstico, como as de consumo, também perderam força no fim, mas conseguiram fechar um pouco acima da estabilidade, em alta de 0,04% para o ICON.
Nesta quinta, a tonelada do minério de ferro negociada em Dalian, China, voltou a fechar abaixo de US$ 100, cotada a US$ 99,09, em retração de 0,49% para o contrato da commodity mais líquido - o dia também foi de ajuste para os preços do petróleo Brent e WTI, ambos em baixa superior a 1% em Londres e Nova York.
Em audiência pública nesta quinta-feira no Senado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o BC monitora a dinâmica de preços na China, país que em julho registrou sua primeira deflação desde 2021, o que resultou, na quarta-feira, em aversão a risco nos mercados globais.
"A deflação na China gerou grande preocupação no mundo. Se for um processo contínuo, vai assustar muito, em termos de países que negociam com a China", afirmou Campos Neto.
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