O dia e a semana chegam ao fim com o mesmo tom negativo que tem prevalecido para a renda variável. Passada a primeira quinzena de dezembro, e faltando duas semanas para o encerramento do ano - com fluxo que tende a se enfraquecer nessa reta final de 2022 -, o Ibovespa acompanhou o passo dos mercados externos, com quase todas as principais bolsas, no exterior, em baixa nesta sexta-feira, como também no acumulado da semana e do mês. Dentre as maiores bolsas de fora, apenas Hong Kong, na Ásia, subiu hoje (0,42%) e avança em dezembro (4,59%).
Na B3, o índice de referência cedeu hoje 0,85%, aos 102.855,70 pontos, acumulando perda de 4,34% na semana e, até aqui, de 8,56% em dezembro - a caminho, por enquanto, de seu pior desempenho mensal desde o mergulho de 11,5% em junho, até agora o pior para o Ibovespa desde o ponto mais baixo da pandemia de covid-19, em março de 2020, quando cedeu 29,90%. Na semana, a queda de 4,34% sucede outro recuo, de 3,94%, após duas semanas de leves ganhos para o Ibovespa, respectivamente de 2,70% e 0,10%.
O nível de fechamento para o Ibovespa nesta sexta-feira foi o menor desde 1º de agosto, então aos 102.225,08 pontos. Hoje, oscilou entre mínima de 102.248,42 e máxima de 104.017,56, saindo de abertura aos 103.737,17 pontos. Em dia de vencimento de opções sobre ações, o giro desta sexta-feira foi a R$ 39,3 bilhões. No ano, o Ibovespa, que virou para o negativo na última terça-feira, cede agora 1,88%.
Entre as ações de maior liquidez, o desempenho ao final misto no setor de commodities (Petrobras ON +0,28%, PN +0,05%; Vale ON -1,71%) impôs-se, durante a sessão, ao majoritariamente positivo entre os grandes bancos, com destaque para prolongamento da recuperação em BB (ON +2,03%), para Santander (Unit +1,40%) e para Itaú (PN +1,11%). Na ponta do Ibovespa, destaque, além de BB (terceira maior alta do dia), para Cemig (+2,91%) e Dexco (+2,62%). Do lado oposto, Magazine Luiza (-8,85%), Americanas (-7,89%) e CVC (-7,58%).
O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira apresenta mudanças marginais nas expectativas do mercado para o comportamento do Ibovespa na próxima semana. Entre os participantes, a previsão de alta para o índice ficou em 44,44%, de 50,00% na pesquisa anterior. A fatia dos que esperam queda subiu de 16,67% para 22,22%, enquanto a dos que acreditam em estabilidade manteve-se em 33,33%.
"Muita volatilidade ainda nos mercados, aqui e fora, com a indicação, nesta semana, dos principais BCs de que os juros continuarão subindo, para lidar com a inflação", diz Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos. Hoje, dia seguinte à elevação de juros na zona do euro e na Inglaterra, os dados de atividade (PMI) vieram fracos no velho continente, ainda em terreno de contração, inclinando os índices de lá a perdas em torno ou acima de 1% na sessão, em acréscimo ao recuo na casa de 3% visto ontem.
Nos Estados Unidos, as leituras preliminares sobre o PMI industrial e de serviços em dezembro, divulgadas nesta sexta-feira, também ficaram abaixo de 50, indicando contração na margem, em ajuste mais forte do que antecipava o mercado - que já esperava leitura negativa para o mês, tanto para a indústria como para os serviços. Em Nova York, as perdas nos três índices de referência para ações ficaram entre 0,85% (Dow Jones) e 1,11% (S&P 500) na sessão, e entre 1,66% (Dow Jones) e 2,72% (Nasdaq) no acumulado da semana.
A correção em curso nas maiores bolsas dos Estados Unidos e da Europa reflete a percepção de que uma profecia, tantas vezes repetida, esteja a caminho de se concretizar em 2023: recessão global. A perda de dinamismo no ritmo de atividade mundial, o abre e fecha na China (por mais que as restrições à covid estejam se flexibilizando), a elevação dos juros ainda em curso em diversas economias e a resiliente inflação em países pouco acostumados a ela, como EUA e Reino Unido, associam-se à persistente guerra na Ucrânia e a incerteza sobre o rumo dos preços de energia.
A presidente do Federal Reserve (Fed) de Cleveland, Loretta Mester, reforçou hoje que a taxa de juros nos EUA deve subir a um nível acima de 5% e permanecer neste patamar ao longo de todo o ano de 2023, durante entrevista à Bloomberg TV. A fala corrobora o que disseram outros dirigentes da entidade e o que indicou as últimas projeções do BC americano, divulgadas na última quarta-feira.
Com o ambiente em Brasília também bastante fluido, ficaram em segundo plano, hoje, desdobramentos positivos, ontem, com relação ao cenário doméstico, após a indicação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de que não há pressa, nem consenso, para a votação da mudança na Lei das Estatais aprovada esta semana na Câmara. Mesma falta de pressa e de consenso, vista também na Câmara esta semana, para outra questão pendente e que preocupa os investidores, pelo efeito sobre as contas públicas a partir de 2023: a PEC da Transição.
No exterior, o grau de relaxamento da política de covid-zero na China permanecerá a principal incerteza para o mercado de commodities em 2023, de acordo com a Fitch. Para a agência, reabertura total do país traria "significativo" impacto positivo. Por outro lado, a demanda por commodities também é afetada pela fraca perspectiva para a economia global. "Nossa previsão (de alta) do PIB mundial é de apenas 1,4% em 2023 e de crescimento estável para o PIB dos EUA e da zona do euro. No entanto, os estoques permanecem apertados em petróleo, gás e cobre, o que apoiará os mercados", aponta a Fitch.
Hoje, os contratos futuros de petróleo fecharam em queda na sessão, não apenas pelo temor de recessão global: os investidores permanecem atentos também aos casos de covid-19 na China, uma das maiores importadoras da commodity.
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