O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, saiu nesta sexta-feira, 4, em defesa do Banco Central (BC), especialmente à sua decisão de cortar a Selic em 0,5 ponto porcentual (p.p.), de 13,75% para 13,25% ao ano, na quarta-feira, 2. Ele rebateu críticas de setores do mercado financeiro, que atribuiu a turbulência da quinta-feira, 3, nos mercados à medida doméstica de política monetária.
Na verdade, de acordo com o ministro, a instabilidade da quinta-feira teve como origem uma turbulência no mercado norte-americano de títulos que refletiu em vários países e não só no Brasil. Afetou, segundo Haddad, as economias do México, África do Sul, e outros.
"Todo mundo sofreu o abalo da colocação do volume expressivo de títulos americanos no longo prazo. Isso gerou uma turbulência ontem que na minha opinião, indevidamente, foi atribuída à decisão correta que o Banco Central tomou de cortar 0,50 ponto da taxa de juro que é a mais alta do mundo. Então vamos ter um pouco de cautela nas análises porque hoje o dólar, que subiu 2% ontem, já caiu 1% e, às vezes a gente se deixa levar por um dia de turbulência", rebateu ele, que cumpre agenda na capital paulista.
O ministro disse que a mesma coisa está acontecendo com mercado de petróleo. De acordo com ele, toda vez que a Arábia Saudita corta sua produção, o preço sofre uma oscilação. "E aí as pessoas começam a especular sobre se a Petrobras vai aumentar os preços em função de um aumento de uma semana que o petróleo teve e não deixam os preços do petróleo se acomodarem. Quando você corta um milhão de barris por dia da produção de petróleo, afeta uma semana o preço. Depois de uma semana o preço do petróleo volta a acomodar e a Petrobras não pode mais, como fez no passado, tomar decisões com base na volatilidade do mercado", afirmou.
De acordo com Haddad, um dos compromissos deste governo é não deixar ser levado por volatilidades de curto prazo e fazer as projeções de preços dos combustíveis no Brasil à luz do que é concreto, do que é real, e não do que é meramente especulativo.
O ministro fez questão de ressaltar que não tem falado diariamente com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Logo, disse ele, "o governo não tem ingerência nenhuma sobre a política de preços da Petrobras. É uma empresa autônoma, que tem sua governança interna, mas eu acompanho dia a dia a evolução disso porque isso tem impacto na política econômica".
Segundo o ministro, muitas vezes a questão do lucro da empresa está associada a questões internacionais. "Leve em consideração a rentabilidade das outras petroleiras, por exemplo. Uma série precisa ser vista. Uma realidade é a do governo anterior, você teve uma guerra, teve uma mudança consistente de patamar dos preços internacionais. Outra é uma com taxas e juros tão altas e as commodities com tendência de baixa. E às vezes uma ação de um grande produtor, como a Arábia Saudita, para tentar arrefecer uma tendência que tem sido constante desde que os juros passaram a se elevar no mundo inteiro e em particular na Europa e Estados Unidos", pontuou.
Conforme Haddad, é preciso que haja um pouco de cautela porque, pois às vezes passa uma turbulência que é externa e que não vai perdurar como se fosse uma coisa estrutural e que está sendo acompanhada pelo governo federal e pelo Ministério da Fazenda diariamente.
"Não é que não possa acontecer algo; pode acontecer, mas nós precisamos ter um pouco mais de cautela e prever as consequências de uma turbulência de uma semana na política econômica que vai manter o seu rumo. Então eu queria aqui elogiar, mais uma vez, a decisão do Copom", disse ele, acrescentando que não se deve minar as condições de retomada de curto prazo na atividade econômica.
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