A diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Guardado, disse nesta terça-feira, 15, que o Brasil passa por um processo de desinflação, que permitiu ao Comitê de Política Monetária (Copom) começar um processo de afrouxamento da política monetária. "Estamos vendo que o trabalho do BC, que começou em 2021, está rendendo frutos e a gente vai perseverar até que a gente tenha bastante consistência nesse trajeto de desinflação", afirmou durante o evento "Sob o Olhar Delas", organizado pela XP, em Brasília. Ela fez a afirmação quando questionada sobre o nível de taxas de juros no Brasil. "Comparar taxas de juros entre países é uma coisa meio complexa. Se compararmos com a da Argentina, está super baixo", disse, salientando que o nível da taxa depende muito das questões estruturais e circunstanciais de cada economia. Guardado lembrou que, desde 2021 grande parte dos BCs do mundo teve de embarcar em ciclo de aperto monetário que tem sido bastante persistente. A diretora salientou que comparar o Brasil com países avançados é muito complicado porque são economias em estágios muito diferentes. "O Brasil é um país emergente, então é melhor olhar para Chile, Colômbia, México. São países que têm taxas de juros neutras mais baixas do que a brasileira. Aqui em volta, as taxas estão em dois dígitos também, principalmente na Colômbia. Apesar de terem juro neutro mais baixo que o nosso, tem taxas mais altas do que as do Brasil porque tiveram de controlar o processo inflacionário", justificou. "A gradação de aperto para eles é maior do que a que estamos fazendo aqui dentro."
Guardado afirmou que o Comitê de Política Monetária está bastante comprometido com o ritmo (de queda de 0,50 pp) da Selic e que por isso já adiantou que aplicaria outro corte da mesma magnitude na próxima reunião. "Acho que talvez não seja boa prática se comprometer de forma inexorável, pois a gente não sabe o tipo de choque que pode acontecer na economia", ponderou durante o evento "Sob o Olhar Delas", organizado pela XP Inc., em Brasília. Guardado fez questão de pontuar que, desde 2020, "foi choque acima de choque", mas que o Copom está bastante determinado em deixar claro que precisaria haver surpresas em três quesitos muito grandes para que houvesse algum tipo de reavaliação. "Poderia haver questionamento, então nos antecipamos a esse tipo de questionamento. São condições bastante difíceis, até para dirimir dúvidas que poderiam surgir. É uma barra muito alta e a gente só quis deixar claro o quão alta é essa barra", salientou ao citar novamente a adjetivação usada pela diretoria na ata do Copom.
Grau de desancoragem de expectativas de inflação ainda desconfortávelA diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central disse que houve uma reancoragem mais firme das expectativas para a inflação depois da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de estipular a meta de 3% em junho, mas foi apenas parcial. "A gente ainda tem um grau de desancoragem que é desconfortável", disse durante o evento "Sob o Olhar Delas", organizado pela XP Inc., em Brasília. Guardado fez essa consideração após ser questionada sobre o uso de adjetivos nos documentos oficiais de comunicação do BC. "Adjetivos na ata do BC estão no documento porque trazem uma mensagem sobre o tamanho da surpresa que a gente precisaria observar nesses vetores para justificar uma mudança em relação a uma estratégia que a gente está antevendo no momento", justificou. Ela mesmo perguntou o que seria uma surpresa substancial na inflação de serviços, dando um dos exemplos e explicou que não se trata de um desvio de 5 bases point para um lado ou para o outro. "É uma surpresa que possa elevar a trajetória das nossas expectativas para a inflação de serviços substancialmente para baixo no nosso horizonte relevante. Não é o dado de um só mês", acrescentou. A diretora comentou que o processo de desinflação é natural e que, portanto, haverá meses bons e ruins e surpresas negativas e positivas. "Temos de ficar olhando a tendência. A gente vem se portando assim há bastante tempo e vamos continuar assim no nosso modus operandi: tentar entender o que está acontecendo na parte inercial da inflação e ver como isso vai afetar nossas projeções e o caminho que estamos projetando para a frente", citou. Guardado comentou também sobre o uso da expressão "abertura contundente de hiato". "Não é isso ou aquilo. É o conjunto de variáveis, que estão interconectadas. Isso provavelmente levaria a uma revisão baixista das nossas projeções de inflação. Não é que um vai acontecer independentemente do outro."
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