O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, comentou nesta segunda-feira, 2, que houve uma volatilidade recente no mercado financeiro relativa à tentativa de digerir pacote fiscal e isenção de Imposto de Renda a contribuintes com rendimento mensal de até R$ 5 mil. Durante palestra no evento Fórum Político da XP Investimentos, em São Paulo, ele também reafirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom) continuará a não dar guidance sobre os próximos passos sobre a coordenação de juros.
Galípolo lembrou que começaram a chegar notícias sobre o pacote antes mesmo do pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "De início, houve uma dúvida sobre se a medida do Imposto de Renda estaria relacionada com a primeira (pacote de contenção de gastos) e se uma era para compensar a outra", lembrou. "A partir daí você já tinha um trabalho, que me parece bastante grande, de explicar o volume grande de medidas que foram anunciadas, especificamente na questão de contenção de gastos, e, de outro lado, também entender como o programa se compensa e em qual ritmo ele anda", comentou.
Por isso, conforme Galípolo, essa volatilidade recente corresponde à tentativa de digerir essas informações.
Ele repetiu que o papel do Banco Central é o de reancorar as expectativas. "Não vamos dar nenhum guidance, ainda mais agora, nas vésperas da reunião do Copom, sobre o que a gente vai fazer para as próximas reuniões e nem para a próxima reunião", disse, repetindo que o BC não existe para gerar mais volatilidade no processo. "Todos esses movimentos são sempre feitos com o devido cuidado e comunicação que a política monetária demanda e exige", enfatizou.
O futuro presidente do BC repetiu que a instituição e o mercado vêm sendo frustrados sistematicamente em relação aos dados mais fortes da atividade. "Todos nós estamos sendo surpreendidos com o processo."
Projeções e cenários
Gabriel Galípolo disse também que a questão fiscal perpassa a discussão de todo o ano de 2024. Ele afirmou que as projeções do mercado financeiro para o resultado primário e a dívida não revelaram grandes mudanças desde o início do ano. Já as projeções para crescimento, juro terminal e inflação cresceram mais do que as estimativas para as variáveis fiscais. Segundo ele, a mudança nas projeções tem menos a ver com mudança fiscal e mais com a economia dinâmica.
"Ao olhar para as projeções sobre resultado primário, para as projeções de relação dívida/PIB, a gente não enxerga do começo do ano para agora uma mudança tão relevante quanto as mudanças que a gente assistiu do ponto de vista da expectativa de taxa de juros terminal, do ponto de vista de expectativas de inflação e de crescimento", afirmou o diretor, durante a palestra no evento Fórum Político da XP Investimentos.
A partir desse maior dinamismo, segundo ele, o mercado de trabalho vem se demonstrando bastante resiliente em diversas métricas. "A gente está batendo recorde em cima de recorde, seja de rendimento - o rendimento agora mostrando alguma moderação na margem, mas ainda sem isso poder sinalizar uma tendência clara -, questão do desemprego, a gente tem vários recordes sendo batidos do ponto de vista de atividade econômica, de velocidade de queda do desemprego, ocupação de capacidade instalada", citou, acrescentando que talvez a progressividade da política fiscal tenha dado dinheiro para quem tem propensão a consumo mais elevada e que isso acabou se revelando um dinamismo superior ao que se imaginava.
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