O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Richmond, Tom Barkin, afirmou nesta terça-feira, 17, que há "progresso" na luta contra a inflação, que está na direção correta, embora ainda não no ponto almejado pela instituição. No evento Real Estate Roundtable, o dirigente comenta que vê um descasamento entre dados mais recentes da economia dos Estados Unidos e o que ouve em seus contatos com agentes econômicos, como dirigentes de empresas. Ele diz que "ainda precisa ser convencido" de que a demanda está se ajustando e que qualquer fraqueza está sendo transmitida à inflação.
Sem direito a voto nas decisões de política monetária neste ano, Barkin afirma que não gosta de depender apenas dos indicadores, mas tem como prioridade estar "em campo" toda semana para entender melhor a economia.
Ele vê "uma certa desconexão" entre os indicadores e o que escuta nessas incursões. "Vejo uma economia que está bem mais avançada no caminho para normalização da demanda do que muitos dos indicadores diriam a você", compara. "Mas a questão é quanto dessa desaceleração está passando para a inflação", avalia. "A trajetória para a inflação ainda não está clara", considera ainda.
Nesse contexto, Barkin nota que apoiou a decisão da última reunião de manter os juros e esperar por mais informação. "Temos tempo para ver se já fizemos o suficiente, ou se há mais trabalho a fazer", afirma.
Ele diz que há agora "uma história plausível" de que a demanda mais fraca já atua para levar a inflação à meta de 2%. Segundo ele, a demanda enfraquece pois as altas de juros atuam com um atraso, conforme os juros de longo prazo avançam.
Ele diz que essa história é "plausível", mas lembra que não seria a primeira vez no quadro recente que uma narrativa que levaria a uma inflação mais baixa não se confirmou. Desse modo, o dirigente afirma que "ainda precisa ser convencido", pois a inflação segue elevada.
Os indicadores dirão que a demanda não está fraca, com o Produto Interno Bruto (PIB) ainda sólido e expectativas de resultado mais forte no terceiro trimestre. O mercado de trabalho "não está fraco" conforme os dados, acrescenta ainda. Mas Barkin pondera que os dados saem com atraso, sendo posteriormente revisados várias vezes. Por isso ele diz que sua prioridade tem sido intensificar contatos em campo para entender o cenário. "Estou ouvindo uma mensagem diferente", afirma.
Seus contatos falam que a demanda desacelera, consumidores estão revendo prioridades em gastos, os bancos estão sentindo a pressão sobre as margens e reduzem presença em setores mais arriscados, por exemplo. O mercado de trabalho em geral também se ajusta mais, relatam.
De qualquer modo, Barkin diz que, diante da falta de clareza sobre o rumo da inflação, é positivo esperar para haver mais informações antes da próxima mudança. Ele vê vários cenários potenciais, de uma retomada a uma recessão ao retorno do normal anterior à pandemia. E acrescenta que o Fed caminha sob um caminho estreito, focado em evitar que a inflação retorne, mas também sem querer provocar dano desnecessário à economia. Há ainda o potencial de choques externos, como mostram as notícias recentes do Oriente Médio, cita.
Barkin diz que, conforme fala com empresas, ouve motivos para acreditar que, caso ocorra uma recessão, ela deve ser "menos severa".
Segundo ele, o "preâmbulo prolongado" de risco de recessão reduz esse custo, com empresas já preparadas para eventual contração.
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