Em sessão marcada por instabilidade e troca de sinais, o dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,2072, em alta de 0,16%, chegando ao penúltimo pregão de fevereiro com ganhos acumulados de 2,57% no mês. No exterior, a moeda americana caiu em relação a pares fortes e à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, embora tenha subido frente ao peso chileno e ao rand sul-africano, mais ligados ao real.
O dólar até esboçou uma queda mais acentuada por aqui à tarde, chegando a operar na casa de R$ 5,17 diante da notícia de confirmação da reoneração de combustíveis, mas retomou o fôlego na última hora de negócios. Parte desse movimento se deu na esteira da diminuição do ritmo de queda da moeda no mercado futuro, com investidores já antecipando rolagem de posições na véspera da definição da última taxa Ptax de fevereiro.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, saiu de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela manhã prometendo para a tarde anúncio da decisão em torno da volta do PIS/Cofins sobre gasolina e etanol, dado que a Medida Provisória que assegura a isenção dos tributos termina amanhã. E, de fato, por volta das 15h20, o Ministério da Fazenda, com antecipado pelo Broadcast, anunciou a reoneração. Haverá modelagem da cobrança para cada item, mas a pasta garantiu que R$ 28,9 bilhões de aumento de receitas estão garantidos. A intenção é onerar mais gasolina e menos etanol e biodiesel.
"A reoneração se refletiu mais no mercado de juros futuros. O real operou relativamente mal hoje, com muito fluxo aleatório e os ajustes para rolagem de posições e definição da Ptax amanhã", diz um gestor de recursos, que pediu para não ter seu nome citado.
A reoneração era defendida pelo ministro da Fazenda, mas tinha oposição da ala política do governo, cuja representante mais estridente é a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). Segundo analistas, a volta dos tributos é positiva, pois ajuda a reduzir o déficit neste ano e esfria a "fritura de Haddad" nos bastidores do governo às vésperas do anúncio do novo arcabouço fiscal, prometido para março. Há, contudo, apreensão com possível mudança na política de preços da Petrobras. O presidente da petroleira, Jean Paulo Prates, está reunido com o secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo.
"Não me lembro de uma decisão de tributação, mesmo que sobre combustíveis, que tenha envolvido reuniões com o presidente da Petrobras", afirma o sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall. "Fica a dúvida se não está implícita nessa decisão alguma forma de compensação do aumento de impostos via alteração para pior na política de preços da Petrobras."
O diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, observa que o dia foi de grande volatilidade para o dólar no mercado local, apesar do clima ameno no exterior e da reoneração dos combustíveis, que traz uma perspectiva melhor para a questão fiscal.
"O dólar subiu para R$ 5,20 com pressão de dados da economia americana na semana passada e não se firmou em queda hoje. Mas ainda vejo uma tendência positiva para o real no curto prazo, com a perspectiva de que os juros locais vão seguir altos e estimular o carry trade", diz Rolha, para quem o dólar pode voltar a operar perto de R$ 5,10.
(Com Cícero Cotrim)
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