O dólar à vista emendou nesta quarta-feira, 5, o terceiro pregão consecutivo de alta no mercado doméstico de câmbio, em meio à recomposição de posições defensivas e realização de lucros diante da cautela com o andamento da pauta econômica no Congresso. Afora quedas pontuais e muito limitadas, quando registrou mínima a R$ 4,8355, a moeda operou em alta ao longo da sessão e chegou a ultrapassar R$ 4,87 na máxima (R$ 4,8706). No fim do dia, o dólar subia 0,20%, cotado a R$ 4,8503 - maior valor de fechamento desde 13 de junho (R$ 4,8624).
Parte do enfraquecimento do real também pode ser atribuída à onda de valorização da moeda americana no exterior, acentuada à tarde com a divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), que reforçou a expectativa de elevação adicional da taxa de juros nos EUA. Moedas latino-americanas de países de juros altos pares do real, os pesos mexicano, chileno e colombiano foram contra a maré e se fortaleceram.
No acumulado das três últimas sessões, o dólar à vista subiu 1,27%. Passada a euforia com revisão da perspectiva do rating do Brasil pela S&P Global e a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a meta de inflação em 3% para 2024, 2025 e 2026, investidores adotaram postura mais defensiva de olho no quadro político.
Há certa apreensão o imbróglio em torno da reforma tributária e do projeto que retoma o voto de qualidade nas decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Hoje, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), admitiu, em entrevista a GloboNews, que o marco fiscal está em terceiro lugar na agenda da casa. Lira disse que a ideia é votar a reforma tributária no plenário da Câmara amanhã à noite.
"As negociações da reforma tributária estão muito confusas e a aprovação do novo arcabouço fiscal ainda não foi concluída. O cenário local ajuda a explicar porque o real se descolou hoje de seus pares da América Latina", afirma o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, que vê uma volta do dólar para a casa de R$ 4,90 no curto prazo. "Não vejo espaço para rompimento dos R$ 5,00, mas devemos retomar rapidamente os R$ 4,90 com ajuste técnico dos estrangeiros".
À tarde, o BC informou que o fluxo cambial total em junho foi positivo em US$ 2,890 bilhões, graças à entrada líquida de US$ 3,776 bilhões via comércio exterior. Já a conta financeira apresentou saídas líquidas de US$ 885 milhões. No ano, até 30 de junho, o fluxo total é positivo em US$ 15,050 bilhões.
"O fluxo cambial registra entrada robusta em 2023, resultado do bom desempenho do fluxo comercial. Nos próximos meses, esperamos que o desempenho do fluxo de exportação tenha alguma moderação, na medida em que os efeitos da safra recorde de soja se dissipam", afirma o time de economistas do Itaú Unibanco, em relatório.
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