Após romper o piso psicológico de R$ 4,85 pela manhã e trabalhar ao longo da tarde em queda moderada, o dólar à vista ganhou fôlego na última hora de negócios e encerrou a sessão desta quarta-feira, 19, em alta de 0,15%, cotado a R$ 4,8802 - nível muito próximo da máxima do dia, a R$ 4,8807, registrada nos últimos minutos do pregão. Esse movimento se deu em meio a ganhos da moeda americana no exterior, em especial em relação a divisas fortes, e a novas máximas das taxas dos Treasuries de 2 anos, enquanto investidores digeriam declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
Como esperado por ala amplamente majoritária do mercado, o BC americano anunciou manutenção da taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas manteve a porta aberta para um aumento adicional dos juros, a depender dos indicadores econômicos. No chamado gráfico de pontos, 12 dirigentes do Fed esperam juros entre 5,50% e 5,75% no fim deste ano, ao passo que sete projetam taxa no nível atual.
Em seu comunicado, o BC americano disse que a atividade se expande em "ritmo sólido" e que, apesar da perda de fôlego do mercado de trabalho, a taxa de emprego continua baixa e a inflação, elevada. Uma vez mais, o comitê do Fed afirmou que vai levar em conta o efeito cumulativo e defasado do aperto monetário para avaliar se é preciso uma alta adicional de juros. Apesar do tom do comunicado e de revisão para cima de projeções de crescimento e inflação, a reação inicial do mercado foi amena.
Em entrevista coletiva após a decisão, o presidente do Fed reforçou o discurso 'data dependent', ou seja, de que vai avaliar os indicadores econômicos no intervalo entre reuniões do BC americano para decidir sobre eventual nova alta dos juros. Powell reconheceu que a atividade tem desempenho superior ao que muitos esperavam diante do aperto monetário. Ele ressaltou que, caso a economia se mostre mais forte do que o projetado, o Fed terá que subir mais a taxa básica - o que acabou alimentando uma alta das taxa dos Treasuries de 2 anos, mais ligada às expectativas para o rumo da política monetária.
Para o diretor de investimentos da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, o tom do comunicado foi duro. Ele chama a atenção para o fato de os integrantes do Fed passarem a prever inflação mais alta, maior crescimento econômico e menor taxa de desemprego. "No fundo, as projeções mostram que o trabalho dele está mais difícil. Powell reforçou que o Fed está data dependent e até deixou a porta aberta nova alta. Mas a mensagem principal é de juro em nível elevado por mais tempo", afirma Jolig, para quem a reação inicial positiva do mercado causou estranheza.
O Citi avalia que o Fed "enviou uma mensagem hawkish sem ambiguidades". O banco destaca, em comentário a clientes, que o BC dos EUA continua a prever uma elevação de 25 pontos-base ainda para este ano, que para o Citi deve ocorrer em novembro. A mudança no gráfico de pontos é sinal de que o Fed planeja "manter juros mais elevados por mais tempo", acredita o Citi.
Lá fora, o índice DXY, que operava em ligeira baixa antes da fala de Powell, trocou de sinal e passou a subir, superando a linha dos 105,317 pontos, com novas máximas do dólar em relação ao euro. A moeda americana também abandonou o sinal negativo que mantinha na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, embora tenha se mantido em leve queda frente a dois pares do real, os pesos chileno e colombiano.
Jolig vê a possibilidade de uma piora do apetite ao risco e manutenção de dólar forte no mundo ao longo dos próximos dias, mas descarta a possibilidade de uma depreciação acentuada do real. "O dólar pode subir mais contra as moedas da Ásia, mas as divisas que têm carrego, caso do real, não devem ser muito atingidas", diz Jolig, para quem o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tende a manter o ritmo de redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual por reunião nos próximos meses.
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