O dólar subiu no mercado doméstico e esboçou fechar acima de R$ 5,10 na sessão desta quarta-feira, 8, dia marcado por sinal predominante de alta na moeda norte-americana no exterior e avanço das taxas dos Treasuries. O real apresentou o pior desempenho entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com investidores preferindo adotar uma postura defensiva diante das dúvidas que cercam a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) ainda nesta quarta à noite.
Com mínima a R$ 5,0769 e máxima a R$ 5,1080, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 0,47%, cotado a R$ 5,0913. Nas cinco primeiras sessões de maio, a moeda ainda acumula perdas de 1,95%. Como nos pregões anteriores, a liquidez foi moderada, o que revela postura cautelosa das tesourarias. Principal termômetro de apetite por liquidez, o contrato de dólar futuro para junho movimentou pouco mais de US$ 10 bilhões.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - operou em leve alta, com máxima aos 105,644 pontos, em meio a um tombo do iene. As taxas dos Treasuries voltaram a subir. O retorno da T-note de 10 anos se aproximou de 4,50%, em dia de leilão de US$ 42 bilhões com demanda em linha com a média recente.
Sem indicadores relevantes nos EUA nesta quarta, investidores monitoraram declarações de dirigentes do Banco Central Americano. No início da tarde, a presidente do Federal Reserve de Boston, Susan Colin, disse que o nível atual dos juros é "moderadamente restritivo" e alertou para riscos de cortes prematuros da taxa básica.
"O câmbio aqui ficou pressionado pela alta dos Treasuries, com leilão importante de T-note de 10 anos, e pelas incertezas em relação à decisão e aos sinais do Copom sobre o ciclo de corte da taxa Selic", afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicola Borsoi, que prevê redução de 0,25 ponto porcentual nesta quarta e Selic terminal em 10%.
Com fluxo cambial menos positivo neste ano e dúvidas crescentes em torno do compromisso do governo com as metas fiscais, analistas afirmam que o fôlego do real está muito ligado ao diferencial entre juros interno e externo. Não por acaso, a taxa de câmbio chegou a se aproximar de R$ 5,30 em meados de abril quando investidores passaram a trabalhar com apenas um corte de juros nos EUA neste ano.
Dado o aumento das incertezas no exterior, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, veio a público no mês passado para derrubar o forward guidance do Copom, que previa novo corte da Selic em 0,50 ponto porcentual em maio. Apesar das leituras recentes benignas do IPCA, a maioria do mercado passou prever uma redução de 0,25 ponto nesta quarta.
Para o economista-chefe da Nova Futura, o quadro macroeconômico abre espaço para manutenção do ritmo de 0,50 ponto, mas as incertezas no quadro externo sugerem que o BC deve adotar uma postura mais cautelosa e optar pelo 0,25 ponto. A reação da taxa de câmbio, observa Borsoi, depende tanto da magnitude do corte quanto da sinalização do Copom para seus próximos passos.
"Com essa visão de que a inflação continua forte nos EUA, se o Copom optar por corte de 0,50 ponto, o câmbio aqui vai sofrer. Toda aquela história de 'carrego' vai se esvaziar um pouco", diz Borsoi, em referência ao estreitamento do diferencial de juros interno e externo. "Um corte de 0,25 ponto, mas com promessa de ciclo mais longo também pode pesar no câmbio. Se a redução for de 0,25 ponto com sinais de que o ciclo está terminando, o dólar pode vir para baixo".
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