Após quatro pregões consecutivos de baixa, período em que acumulou desvalorização de 2,55%, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 27, em alta de 0,74%, cotado a R$ 5,1120. Apesar do repique hoje, a divisa termina a semana com recuo de 1,84%, atribuído por analistas, sobretudo, à perspectiva de desaceleração do ritmo de elevação de juros nos Estados Unidos e à valorização das commodities com a reabertura da economia chinesa.
Segundo operadores, o fortalecimento da moeda americana no exterior hoje abriu espaço para um movimento de correção no mercado de câmbio local, em dia de retorno das preocupações com o rumo da política fiscal, na esteira de sinais contraditórios vindos do governo Lula. Não por acaso, o dólar renovou máxima, a R$ 5,1165, à tarde, em meio a declarações do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, dando conta de que Lula definirá com Estados e municípios plano de investimentos em obras no País - o que aponta para aumento de gastos públicos no momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta sinalizar apego à responsabilidade fiscal.
O sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac, observa que, após dias de agenda interna vazia e ausência de falas negativas vindas de Brasília, o risco fiscal voltou a incomodar os investidores. "Enquanto os ministros da Fazenda (Fernando Haddad) e do Planejamento (Simone Tebet) tentam reforçar agenda de controle de gastos, Lula e outros ministros falam em obras e financiamento do BNDES a outros países", afirma Izac.
Também teriam contribuído para alta do dólar ao longo da sessão o início de rolagem de contratos futuros que vencem em janeiro e a retomada parcial de posições defensivas já em preparação para a "super quarta" (1º de fevereiro), com decisão de política monetária do Federal Reserve e do primeiro encontro do Copom após críticas de Lula à atuação do BC e à meta de inflação.
Nos Estados Unidos, é quase unânime a aposta de que o Federal Reserve vai desacelerar o ritmo de alta da taxa de juros de 50 pontos-base para 25 pontos-base, levando os Fed Funds para a faixa entre 4,50% e 4,75%. Cresce a expectativa de que a taxa terminal do processo de aperto monetário não ficará muito além de 5% e que o BC americano pode começar a reduzir os juros no fim do ano.
O CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, afirma que os indicadores americanos divulgados esta semana, como o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), vieram em linha com o esperado e reforçaram a expectativa de postura menos dura por parte do Fed. "O dólar subiu hoje, mas vem perdendo valor no mundo, o que favorece o real. Tudo indica que deve permanecer um bom diferencial entre juros interno e externo com o fim do ciclo de alta nos EUA", afirma.
Para a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, o apetite externo ao risco teve papel preponderante na queda do dólar por aqui ao longo da semana. "Vimos um grande apetite do investidor estrangeiro, que está bem evidente no fluxo para a B3. Continuamos com o movimento de 'risk on' lá fora. O Fed deve confirmar redução do ritmo para 25 pontos, o que vai continuar dando fôlego a moedas emergentes", afirma Damico, acrescentando que o real foi favorecido também pela alta dos preços das commodities neste início de ano.
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