Após ensaiar um recuo pela manhã, o dólar ganhou força ao longo da tarde e, depois de atingir máxima a R$ 5,2287, encerrou a sessão desta terça-feira, 14, em alta de 0,42%, cotado a R$ 5,1984. Lá fora, a moeda americana apresentou leve queda frente a pares fortes e teve desempenho misto na comparação com divisas emergentes e de exportadores de commodities, com investidores digerindo a leitura do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em janeiro. Pares do real, como o peso mexicano e o peso chileno, contudo, se fortaleceram ante o dólar.
Segundo analistas, pesou contra a moeda brasileira a informação, apurada pelo Broadcast com fontes, de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já bateu o martelo a favor de uma elevação da meta de inflação deste ano, que é de 3,25%, em 1 ponto porcentual - o que, na visão do presidente, abriria espaço para que a taxa Selic cedesse dos atuais 13,75% para 12% no fim do ano, abaixo da mediana do Boletim Focus (12,75%).
Com o mercado à vista já fechado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que meta de inflação não está na pauta da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) desta quinta-feira, 16. Isso levou a uma forte desaceleração da alta do contrato de dólar futuro para março, que foi negociado pontualmente abaixo da cotação de fechamento no mercado spot.
Em todo caso, a suposta ofensiva de Lula eclipsou o tom amistoso e conciliador do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista ontem ao programa Roda Viva, da TV Cultura, e hoje pela manhã em evento do BTG Pactual. Campos Neto negou que seja a favor de mudar a meta de inflação, rumor que causou estresse no mercado na semana passada, e defendeu a autonomia da autarquia. Por outro lado, pregou uma aproximação com o governo, se dispôs a ir ao Congresso e disse achar "justo questionar os juros altos".
"O mercado está muito sensível a essa conflito do governo com o BC. O dólar ameaçou romper o suporte de R$ 5,13 pela manhã, mas acabou subindo com essa notícia de que devem mexer mesmo nas metas de inflação", afirma o economista Bruno Mori, sócio fundador da consultoria Sarfin.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), voltou a atacar a gestão da política monetária no lançamento da Frente Parlamentar contra "juros abusivos. Uma das principais vozes da ala política do governo, mesmo sem cargo na Esplanada dos Ministérios, Gleisi disse que não há risco fiscal e que o BC "não pode aplicar remédio errado" que "compromete o crescimento".
Nos EUA, dados da inflação ao consumidor em janeiro não autorizaram apostas mais fortes em uma interrupção iminente do aperto monetário pelo Federal Reserve e em taxa de juros terminal abaixo de 5%. O CPI subiu 0,5% em janeiro e o núcleo, 0,4% - ambos em linha com a expectativa. Na comparação anual, tanto o índice cheio (6,4%) quando o núcleo (5,6%) mostraram desaceleração, mas vieram acima do previsto por analistas. Dirigentes do Fed disseram hoje à tarde que os índices de preços estão arrefecendo, o que permitiu desacelerar o ritmo de alta de juros, mas que ainda há trabalho a fazer para que garantir a convergência da inflação para a meta de 2%.
"Embora resultado de inflação nos EUA tenha vindo dentro do esperado e, na sequência, houve comentários de dirigentes do Fed com tom mais neutro, o dólar voltou a subir por aqui, sinalizando que a pressão vem mesmo do cenário interno", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest. "Possivelmente as críticas que o presidente continua fazendo ao Banco Central continuam gerando desconforto no mercado".
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