O dólar à vista operou em terreno positivo ao longo de todo o pregão em sintonia com o exterior, devolvendo parte da queda expressiva de ontem (-1,52%), mas se manteve abaixo da linha de R$ 5,00 no fechamento. O comportamento da moeda americana no mercado local sofreu forte influência da disputa técnica para formação da última Ptax de abril e pela rolagem de posições no segmento futuro de câmbio.
No noticiário doméstico, analistas viram forças distintas atuando sobre a precificação do dólar. Dados positivos da economia brasileira, como avanço de 3,32% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em fevereiro, favorecem ao real, ao mostrar perspectivas melhores para atividade e possível manutenção da taxa Selic em 13,75% por longo período. De outro lado, pesam dúvidas ainda sobre o controle das contas públicas. Após impacto positivo ontem da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) favorável ao governo na questão tributária, houve certo desconforto com a definição da nova política de reajuste do salário mínimo.
Com máxima a R$ 5,0183, na primeira hora de negócios, e mínima a R$ 4,9795, à tarde, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 28, cotado a R$ 4,9874, em alta de 0,14%. Na semana, graças sobretudo ao tombo de ontem, a moeda recuou 1,40%, terminando abril com perda de 1,60%. No ano, o dólar acumula baixa de 5,54%. Com a rolagem de posições no mercado futuro, o contrato da moeda para liquidação em junho, que passa a ser o mais líquido, teve giro forte, acima de US$ 17 bilhões.
Entre as principais divisas emergentes e de exportadores de commodities, o real foi a única moeda, ao lado do peso mexicano, a se apreciar frente ao dólar no mês. Divisas menos relevantes do leste europeu, como florim húngaro e zloty polonês, também se destacaram. Termômetro do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY operou em alta comedida hoje, acima da linha dos 100,600 pontos, mas encerrou a semana com leve baixa e acumulou recuo de quase 1%.
Segundo o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a safra recente de indicadores domésticos (serviços, varejo e mercado de trabalho) mostra que a economia não está desacelerando no ritmo em que se previa, o que sugere que não há espaço para que o Banco Central inicie um processo de corte de juros ainda no primeiro semestre, como esperado por uma ala dos investidores.
"Os dados de atividade consolidam a visão de que o BC vai demorar a reduzir juros. Outro fator importante no curto prazo é que a balança comercial continua bastante positiva, com a parte agrícola. Isso tudo ajuda na dinâmica do câmbio", afirma Lima. "Se o país conseguir fazer a coisa certa na questão fiscal, o real pode se apreciar mais, porque a moeda não está valorizada".
A perspectiva de manutenção de taxa Selic elevada por mais tempo, aliada à visão de que o aperto monetário nos EUA está perto do fim e de que o juro terminal por lá não vai chegar a 6%, tende a dar suporte a moeda brasileira ao manter um diferencial elevado de taxas. Nos EUA, o índice de preços de gastos ao consumo (PCE) avançou 0,1% em março e seu núcleo - que exclui alimentos e energia - subiu 0,3%, em linha com as expectativas. Monitoramento da CME mostram que as chances de alta dos FedFunds em 25 pontos-base na próxima semana, dia 3, ultrapassaram novamente 90%.
Por aqui, é unânime a aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai anunciar, também no dia 3, manutenção da taxa Selic em 13,75%. As dúvidas giram em torno da possibilidade de aceno para início de um ciclo de corte à frente.
No front fiscal, a expectativa é pelo parecer do relator da proposta do novo arcabouço fiscal na Câmara, deputado Claudio Cajado (PP-BA). Segundo apurou o Broadcast, em reuniões com integrantes mercado financeiro deste ontem, Cajado sugeriu que pode tentar ampliar as travas ao aumento das despesa públicas no texto que vai apresentar.
"Há sinais de que o relator e o Centrão querem pôr mais limites aos gastos, mas vamos ver como o governo vai reagir a isso. O dólar passou a trabalhar mais baixo depois da proposta do arcabouço, porque tirou os riscos que vinham com a PEC da Transição, que foi muito ruim. Mas a proposta é muito dependente da receita, não tem punição para descumprimento e vai provocar aumento da carga tributária", diz Lima, da Western Asset.
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