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Dólar se aproxima de R$ 5,50 com queda de commodities e riscos locais

O dólar escalou mais uma vez no mercado doméstico e esboçou fechar acima da linha de R$ 5,50, em meio a aumento da demanda por posições cambiais defensivas. O dia foi marcado por tombo dos preços das commodities e renovadas preocupações com o fôlego da ec

Antonio Perez (via Agência Estado)

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Escrito por Antonio Perez (via Agência Estado)
Publicado em 21.07.2022, 17:52:00 Editado em 21.07.2022, 17:59:11
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O dólar escalou mais uma vez no mercado doméstico e esboçou fechar acima da linha de R$ 5,50, em meio a aumento da demanda por posições cambiais defensivas. O dia foi marcado por tombo dos preços das commodities e renovadas preocupações com o fôlego da economia global, na esteira da decisão do Banco Central Europeu (BCE) de elevar as taxas de juros em 50 pontos-base, acima do consenso do mercado, de 25 pontos-base. Foi o primeiro aumento de juro desde 2011 na zona do euro, cuja taxa anual de inflação ao consumidor atingiu nível recorde de 8,6% em junho.

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Segundo analistas, além do ambiente externo conturbado, a busca pelo dólar (para hedge ou pura especulação) é alimentada em parte pelos riscos político-institucionais domésticos às vésperas do início oficial da corrida eleitoral. Mesmo com dados positivos de arrecadação corrente, há também percepção de aumento do risco fiscal, uma vez que não se sabe de onde virá o dinheiro para manter isenções tributárias e benefícios sociais em 2023.

Afora uma queda pontual pela manhã, quando registrou mínima a R$ 5,4302, o dólar trabalhou em alta firme ao longo de toda a sessão, tendo alcançado o patamar de R$ 5,51 à tarde ao registrar máxima a R$ 5,5146. No fim do dia, a moeda avançava 0,65%, a R$ 5,4962. Com isso, a moeda passou a acumular valorização de 4,99% em julho.

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Lá fora, o dia foi de perda de fôlego do dólar frente a divisas fortes. Com muita volatilidade, o euro apresentou uma leve recuperação das baixas recentes. A presidente do BCE, Christine Lagarde, reconheceu que a economia da região desacelera, mas descartou a possibilidade de recessão neste ou no próximo ano, a despeito do conflito na Ucrânia e do aperto das condições financeiras. O iene, que renovou nas últimas semanas mínimas desde 1998 em relação ao dólar, apresentou alta firme hoje. O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês), afirmou nesta quinta-feira que a inflação provavelmente vai superar a meta de 2% neste ano fiscal, mas manteve inalterada as taxas de juros e sinalizou que vai seguir com a política monetária expansionista.

Com o avanço de iene e euro, o índice DXY acabou em queda de cerca de 0,30%, voltando a trabalhar abaixo da linha dos 107,000 pontos. A perspectiva de analistas é de manutenção de dólar em patamares elevados frente a divisas fortes, em especial o euro, uma vez que os Estados Unidos terão desempenho econômico e taxas de juros superiores aos europeus. O mercado dá como certo que o Federal Reserve anunciará na próxima quarta-feira (27) nova elevação da taxa de juros em 75 pontos-base. A Europa sofre com os impactos duplamente recessivos e inflacionários dos preços de energia. A Rússia retomou as entregas de gás à região por meio do gasoduto Nord Stream 1, mas há dúvidas sobre manutenção e volume de fornecimento.

"O Banco Central Europeu demorou muito a reagir à inflação. Tem muito da questão geopolítica no enfraquecimento do euro. Mas o fato é que os EUA tem elevado os juros mais rapidamente, o que fez o dólar se fortalecer bastante nos últimos tempos", afirma Nicolas Giacometti, especialista em renda fixa da Blue 3. "Aqui, estamos às cegas em relação ao fluxo cambial, porque não há ainda dados atualizados. E com esse movimento todo de fortalecimento do dólar ante outras moedas, o real acaba sofrendo por tabela".

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Apesar do tropeço frente a divisas fortes, o dólar subiu em bloco na comparação com moedas emergentes e de países exportadores de commodities, em especial pares do real como o peso mexicano e chileno. Quem destoou foi o rand sul-africano, que se fortaleceu amparado pela decisão do Banco Central do Sul subir sua taxa básica de juros em 75 pontos-base hoje, para 5,50% (analistas esperavam alta de 50 pontos-base).

As cotações do petróleo recuaram, com o tipo Brent para setembro, referência para Petrobras, em baixa de 2,86%, a US$ 103,86 o barril. O minério de ferro fechou em queda de 1,90% em Qingdao, na China, onde se avolumam preocupações com a crise no setor imobiliário e com possível nova onda de casos Covid-19. Commodities agrícolas, como milhões, tribo e soja, também sofreram.

"As dívidas das incorporadoras chinesas não podem ser subestimadas, pois o impacto pode ser relevante sobre os preços dos ativos. Tende a trazer um viés negativo para o mercado de commodities no curto prazo", afirma, em relatório, o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.

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Por aqui, destaque para a arrecadação de R$ 181,040 bilhões de impostos e contribuições federais em junho, alta real de 17,96% na comparação anual e acima da medida de projeções Broadcast, de R$ 175,106 bilhões. Nas mesas de operação, é figurinha fácil a avaliação de que a foto das contas públicas é positiva, mas que a história contada pelo filme assusta. O governo provavelmente terá que promover um corte de gastos em torno de R$ 5 bilhões para cumprir a regra do teto em 2022. As dúvidas recaem sobre a peça orçamentária de 2023, dado que a PEC dos Benefícios assegura gastos extrateto apenas neste ano.

"O combo de política econômica atual visa apenas à reeleição do atual grupo sem qualquer preocupação com o fundamentos macro. Está se criando uma armadilha para o próximo governo, seja qual for. Isso num contexto global mais desafiador", afirma, em nota, o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, para quem o mercado ainda está "muito complacente" com riscos fiscais, políticos e eleitorais.

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