O dólar à vista recuou na sessão desta sexta-feira, 26, devolvendo parte da alta de 1,65% ontem, quando houve rearranjo das apostas para o rumo da taxa de juros aqui, após o IPCA-15 de maio, e nos Estados Unidos. A recuperação do real hoje veio no bojo de uma queda da moeda americana em relação a divisas emergentes, em meio ao avanço das commodities e ao aumento do apetite a risco no exterior, na esteira de sinais de progresso nas negociações para ampliação do teto da dívida dos EUA.
Afora uma alta pontual na primeira hora de negócios, quando registrou máxima a R$ 5,0330 o dólar operou com sinal negativo no restante do dia. Após tocar mínima a R$ 4,9802 à tarde, em sintonia com o ambiente mais benigno lá fora, a moeda fechou cotada a R$ 4,9887, em baixa de 0,93%, encerrando a semana com leve desvalorização (-0,14%). Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para junho teve bom giro, acima de US$ 14 bilhões. Operadores relataram internalização de recursos por exportadores e fluxo para ações domésticas.
"Houve uma reação positiva dos mercados hoje aos sinais de resolução do impasse nos Estados Unidos, já que um calote na maior economia do mundo teria impacto global, minando a confiança e a atividade econômica", afirma o CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, ressaltando que os resultados expressivos das exportações brasileiras têm contribuído para o desempenho do real nas últimas semanas.
Referência do comportamento do dólar frente a seis moedas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY passou a tarde em leve baixa, por volta dos 104,200 pontos, com o mercado monitorando as tratativas em Washington. Na semana, o Dollar Index avança ao redor de 1%. Pela manhã, investidores digeriram dados divergentes sobre inflação nos EUA. O núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo Federal Reserve, veio acima das estimativas em abril tanto em relação a março quanto na comparação anual. Já as expectativas para a inflação em um ano, segundo pesquisa da Universidade de Michigan, recuaram de 4,6% em abril para 4,2% em maio.
Ferramenta da CME mostra que as chances de alta de 0,25 pontos porcentual da taxa de juros pelo banco central americano em junho, que ontem passaram a ser majoritárias, chegaram a superar 55%. A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, disse hoje a inflação ainda é "muito alta" e que "todas as opções estão na mesa" para o encontro da autoridade monetária no mês que vem. O resultado do PCE, observou Mester, sinaliza que o Fed ainda tem trabalho a fazer, embora o ciclo de aperto já esteja perto do fim.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, com uma resolução para a questão do teto da dívida, o dólar pode voltar cair frente a pares fortes, dada a perspectiva de desaceleração da economia americana nos próximos meses. Mesmo que opte por não elevar os juros em 25 pontos-base em junho, o Fed deve manter a política monetária restritiva por mais tempo, o que já começa a ser 'precificado' pelo mercado.
"O dólar tende a ficar mais fraco lá fora, o que pode levar fluxo para emergentes, beneficiando a nossa moeda. O dólar pode continuar abaixo de R$ 5,00 no mercado local. Uma queda maior depende de sinais de que o governo vai conseguir as receitas para cumprir as metas fiscais", diz Velho, ressaltando que uma redução da taxa Selic a partir de agosto ou setembro, embora reduza o diferencial de juros interno e externo, pode beneficiar o real ao atrair recursos para a bolsa doméstica.
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