O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 19, praticamente estável no mercado doméstico de câmbio. Pela manhã, a divisa até ensaiou uma alta mais firme, quando registrou máxima a R$ 5,0838, mas acabou perdendo fôlego ao longo da tarde. Com mínima a R$ 5,0198, o dólar fechou cotado a R$ 5,0528 (-0,03%). Na ausência de indicadores locais relevantes, a formação da taxa de câmbio foi mais uma vez ditada pelo ambiente externo. Investidores digeriram declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no início da tarde, e monitoraram notícias sobre o andamento da guerra entre o grupo palestino Hamas e Israel. Com temores de alastramento do conflito pela região, com eventual envolvimento do Irã, os preços do petróleo fecharam em alta firme, apesar da retomada de negócios entre EUA e o setor petrolífero venezuelano. No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, em especial euro e iene - recuava cerca de 0,30% no fim da tarde, ao redor dos 106,200 pontos. As taxas dos Treasuries longos voltaram a subir, com a T-note de 10 anos flertando com o nível de 5%. Em discurso em Nova York, Powell, repetindo falas recentes de dirigentes do BC americano, disse que o avanço das taxas dos Treasuries leva a um aperto das condições financeiras, o que pode ajudar o Fed a controlar a inflação. De outro lado, o chairman ressaltou a que a economia continua forte e que há dúvidas sobre os efeitos defasados do aperto monetário. Sinais de "crescimento persistentemente acima da tendência" ou de que o mercado de trabalho segue muito apertado, disse Powel, podem "justificar o aperto adicional da política monetária". Para a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, o quadro de incertezas em torno da política monetária americana, agravado pela guerra no Oriente Médio e seus efeitos sobre o petróleo, exacerbam a volatilidade no mercado de câmbio. "O discurso do presidente do BC americano foi cauteloso. A leitura de parte do mercado foi de que pode não haver novas altas de juros. Mas a próxima reunião é apenas no início de novembro e muita coisa pode acontecer até lá com essa questão da guerra", afirma Quartaroli. Após encontro com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, o presidente de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta quinta que o combate ao Hamas "será uma guerra longa". À tarde, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, deu sinais de que uma invasão da Faixa de Gaza é iminente. "Quem vê Gaza de longe agora, verá ela de dentro", disse em visita a tropas israelenses estacionadas na região. Para o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, o discurso de Powell "não ajudou a iluminar" o caminho da política monetária americana. "Eu arriscaria dizer que se a reunião fosse hoje a probabilidade de manutenção seria maior. Mas tem muita coisa para acontecer até o final do mês, particularmente com relação aos desdobramentos da guerra no Oriente Médio. Se ficar claro que a oferta de petróleo vai sofrer de forma expressiva pode haver maior pressão para mais uma elevação", afirma Igliori. Em visita ao
(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o coordenador do grupo consultivo macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, afirmou que os juros mais altos nos EUA podem, em algum momento do primeiro semestre de 2024, causar desvalorização do real em relação ao dólar e, consequentemente, pressionar a inflação doméstica. "Se a relação entre a Selic e o juro nos EUA ficar muito baixa, os investidores também vão comprar mais títulos lá do que no Brasil", disse Honorato.
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