Após três sessões consecutivas de leve queda, o dólar à vista encerrou o pregão desta segunda-feira, 21, em alta moderada no mercado doméstico de câmbio, respeitando novamente a barreira psicológica de R$ 5,00. Com agenda esvaziada e liquidez reduzida, investidores recompuseram parcialmente posições defensivas diante de dúvidas sobre o crescimento chinês, com corte de juros aquém do esperado pelo Banco do Povo da China (PBoC), nova rodada de avanço das taxas dos Treasuries e desconforto com a votação da agenda econômica no Congresso. Afora uma queda nos primeiros negócios, quando registrou mínima a R$ 4,9584, o dólar operou com sinal positivo ao longo do restante da sessão. Com máxima a R$ 4,9965, a moeda fechou cotada a R$ 4,9787, em alta de 0,22%, acumulando valorização de 5,27% em agosto. "O dólar voltou a subir um pouco aqui com o mercado de câmbio bastante cauteloso. As incertezas sobre o crescimento da China continuam a preocupar, mesmo com os estímulos monetários oferecidos", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, acrescentando que há também certo receio com atraso na votação de projetos do governo no Congresso. O banco central chinês anunciou no domingo à noite redução da taxa de juros de referência para empréstimos (LPR, na sigla em inglês) de 1 ano de 3,55% para 3,45%. Já a taxa para empréstimos de 5 anos foi mantida em 4,20%. Em junho, o PBoC havia anunciado redução da LPR de 3,65% para 3,55%. As preocupações com o setor imobiliário permanecem em pauta com o pedido de falência da incorporadora chinesa Evergrande nos Estados Unidos. "As autoridades chinesas surpreenderam negativamente os mercados ao reduzir as taxas de juros para empréstimos em valor menor do que o esperado. Dada a fraqueza da economia chinesa e os problemas recentes do setor imobiliário, esperava-se uma ação mais agressiva", afirma, em nota, o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares. Além das preocupações com a China, analistas afirma que o mercado deve manter certa postura defensiva ao longo semana em meio à espera pelo discurso do presidente do Banco Central dos EUA, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira, 25. As taxas dos Treasuries voltaram a subir em bloco nesta segunda. O retorno do papel de dois anos, mais ligado as apostas para a trajetória dos juros no curto prazo, voltou a tocar 5,00%. Já o yield da T-note de 10 anos registrou máxima a 4,35%. Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, Powell deve fortalecer o "discurso de cautela um pouco
" em Jackson Hole. Ele observa que é cada vez menos provável uma contração da atividade EUA nos dois últimos trimestres deste ano. "Não vislumbramos corte de juros dos EUA até o final deste ano, e elevamos a probabilidade de que ocorra inicialmente entre maio e junho de 2024", afirma. Segundo Velho, com dúvidas sobre o cumprimento das metas de superávit primário previstas no novo arcabouço fiscal, dada a dificuldade de aumentar receitas e controlar gastos, e a redução do diferencial de juros interno e externo, uma rodada forte de apreciação do real se torna mais difícil. "A redução dos juros no Brasil tira em parte a atratividade do retorno financeiro. Fica muito importante a recuperação da China para o Brasil de 2024", afirma o economista. Há certo desconforto entre investidores com o fato de que a definição da minirreforma ministerial, com abertura de espaço para o Centrão no governo, ter sido adiada em razão da viagem do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à África. Teme-se pela votação final do arcabouço fiscal na Câmara e andamento do projeto do Carf no Senado nesta semana.
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