O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 6, em alta de 0,16%, cotado a R$ 5,0581, em dia marcado por perdas da maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Foi um pregão morno e de liquidez reduzida, com oscilação de apenas cerca de quatro centavos entre mínima (R$ 5,0415) e máxima (R$ 5,0831). Na semana, o real teve desempenho bem superior a de seus pares. A moeda americana caiu 0,21% por aqui, mas subiu na comparação com peso chileno, peso mexicano e rand sul-africano.
Segundo operadores, o dia foi de ajustes finos de posições e pouca disposição para apostas mais contundentes, com investidores adotando postura cautelosa na véspera da divulgação do relatório de emprego (payroll) nos EUA e de feriado de Páscoa, quando não haverá negócios no mercado local. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para maio teve giro deprimido, inferior a US$ 8 bilhões.
Após o dólar acumular baixa superior a 4% no ano e ter se aproximado do piso de R$ 5,00 em março, na esteira de arrefecimento do risco de crise no sistema financeiro americano e da apresentação da proposta de novo arcabouço fiscal, faltariam gatilhos para nova onda de apreciação do real. De outro lado, a taxa Selic elevada, em combinação com perspectiva de fim próximo do aperto monetário nos EUA, desencorajam carregamento de posições na moeda americana.
Pela manhã, queda abaixo do esperado nos pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA reforçou a percepção de que, apesar de sinais reiterados de desaceleração da atividade, o mercado de trabalho americano segue apertado. Depois do payroll amanhã, as atenções se voltam para o índice de preços ao consumidor (CPI na sigla em inglês) nos EUA e à ata do Federal Reserve, na quarta-feira, 12.
Operadores notam retomada do interesse do capital externo por ativos domésticos, em especial para a renda fixa. Hoje, o Tesouro Nacional vendeu oferta integral de 3 milhões de NTN-F, o papel público preferido pelo investidor estrangeiro, em operação que somou R$ 2,732 bilhões. Foi a maior oferta de NTN-F desde 3 de fevereiro de 2022.
"Apesar de falas de Lula contra o Banco Central, vemos um movimento de fluxo de estrangeiros para o país, com alternância de recursos da bolsa para os juros. Isso já está acontecendo faz algum tempo", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
Em café da manhã hoje com jornalistas, o presidente Lula voltou a criticar a gestão da política monetária, ao repetir é "incompreensível" taxa Selic em 13,75%, uma vez que não haveria "inflação de demanda". Lula evitou ataque direito a Roberto Campos Neto, dizendo que não quer ficar "brigando" com o presidente do BC, mas lembrou que o governo vai escolher dois novos diretores para a autarquia. "Novos diretores vão mudar de acordo com interesses do governo", afirmou Lula, para quem, se a meta de inflação está errada, muda-se a meta. "Vamos ter que encontrar um jeito para que o BC comece a reduzir a taxa de juros".
Pela manhã, em entrevista a BandNews, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o novo arcabouço fiscal vai exigir, mais do que permitir, a queda da taxa Selic. "Se as contas estiverem em ordem não tem por que existir juros tão altos", disse o ministro. "Penso que está havendo convergência entre a política fiscal e a monetária".
"As falas de Lula e Haddad, na contramão do tom do BC ontem, podem ter trazido algum desconforto para o mercado, mas o clima já era de cautela com a expectativa pelo payroll", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, ressaltando que o comportamento da moeda americana lá fora está muito ligado ao temor de recessão, dada a piora dos indicadores de atividade econômica.
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