Após cinco pregões consecutivos de alta, o dólar caiu na sessão desta sexta-feira, 21. Segundo operadores, o recuo da moeda norte-americana em relação a divisas latino-americanas, em especial o peso mexicano, abriu espaço para ajustes e realização de lucros no mercado local. Houve relatos também de internalização de recursos por exportadores para aproveitar a escalada das cotações nos últimos dias.
Com mínima a R$ 5,4238 e máxima a R$ 5,4625, o dólar à vista terminou a sessão em queda de 0,39%, cotado a R$ 5,4408.
A moeda encerra a semana com ganho de 1,09%, o que leva a alta acumulada em junho a 3,62%. No ano, os ganhos de 12,10%. Na quinta, o dólar fechou no maior valor desde 22 de julho de 2022.
O real apresentou o pior desempenho entre divisas emergentes, sobretudo na comparação com os pares latino-americanos, nesta semana. No ano, levando em conta as principais moedas globais, de emergentes e desenvolvidos, o dólar ostenta os maiores ganhos em relação ao iene e ao real.
Analistas afirmam que o aumento do ceticismo com o cumprimento de metas fiscais a desconfiança com a gestão da política monetária continuam a sustentar a demanda dos investidores por hedge cambial. A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 10,50% não dissipou os temores de um Banco Central mais leniente com a inflação a partir de 2025.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que o real foi afetado nesta semana pelos discursos do governo com questionamento à autonomia do Banco Central, apesar da tentativa do Copom de "ganho de credibilidade no curto prazo" com o consenso entre os diretores em torno da manutenção dos juros.
"Embora o Copom tenha mantido a taxa de juros inalterada e de maneira unânime, o mercado ainda observa com cautela as decisões políticas e toma posições avessas ao risco", afirma Damico, acrescentando que o governo, apesar de iniciar a discussão de corte de gastos, não trouxe uma "decisão específica e clara" sobre o tema. "Esse cenário, aliado a um fluxo negativo, fez com que por mais uma semana o real tivesse uma performance pior comparada aos pares."
A sensibilidade dos investidores aos ruídos políticos é grande. Nesta sexta, o dólar chegou a zerar pontualmente as perdas por volta das 15h45 em meio a declarações críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e à atual gestão da política monetária. Em entrevista à rádio Mirante News, do Maranhão, Lula disse que Campos Neto é seu "adversário político e ideológico", além de não "estar preocupado" com a governança adotada pelo governo.
"Nós estamos chegando no momento de trocar o presidente do Banco Central. Eu acho que as coisas vão voltar à normalidade, porque o Brasil é um País de muita confiabilidade", afirmou Lula, que na quinta já havia criticado a decisão do Copom e Campos Neto, cujo mandato termina no fim deste ano. Lula também disse que a valorização do dólar não preocupa o governo.
Para o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, as dúvidas sobre o quadro fiscal seguem como principal indutor da alta do dólar. Ele lembra que, na quinta, além dos ataques à política monetária, Lula afirmou que não está na pauta do governo estabelecer novos limites para gastos com saúde e educação ou desindexar benefícios previdenciários da política de valorização do salário mínimo.
"Isso traz muita incerteza. Sem o anúncio de medidas, a tendência é o câmbio ficar pressionado ao longo das próximas semanas", afirma Costa, para quem o impacto favorável da decisão do Copom na quarta-feira, 19, foi anulado pelas falas de Lula.
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