Apesar do sinal predominante de alta da moeda americana no exterior e do tombo do Ibovespa, o dólar à vista trabalhou em queda firme ao longo do dia e emendou nesta sexta-feira, 31, o sexto pregão consecutivo de baixa no mercado doméstico de câmbio. Entre máxima a R$ 5,1061, fruto de um avanço pontual e bem limitado na abertura dos negócios, e mínima a R$ 5,0583, a moeda fechou o dia cotada a R$ 5,0686, em queda de 0,57%.
Com as perdas de hoje, o dólar acumula nos últimos cinco pregões desvalorização de 3,48% - a maior queda semanal desde a semana encerrada em 2 de dezembro de 2022 (-3,61%), quando o mercado absorvia a desidratação da PEC da Transição, que abriu espaço para gastos extrateto no primeiro ano de governo Lula. Em março, as perdas são de 2,99% e no primeiro trimestre, de 4,00%.
Analistas atribuem o recuo da moeda americana hoje, em grande parte, a fatores técnicos, como a formação da última taxa Ptax de março e a rolagem de posições no mercado futuro. O contrato de dólar para vencimento em maio teve giro expressivo, superior a US$ 16 bilhões. Do lado conjuntural, dados encorajadores da economia da chinesa, que alimentam perspectiva positiva para preços de commodities, contribuíram para apreciação do real. Divisas como peso mexicano e rand sul-africano também conseguiram escapar do movimento de valorização do dólar no exterior.
Por aqui, analistas ponderam os efeitos líquidos da proposta do novo arcabouço fiscal sobre a dinâmica da taxa de câmbio. Apesar de premissas consideradas otimistas e de se apoiar na perspectiva de aumento das receitas, a nova regra fiscal, com boas chances de ser aprovada no Congresso, afasta o cenário de piora significativa da relação dívida/PIB, principal indicador de solvência do País. Por outro lado, contudo, não é capaz de induzir uma redução grande das expectativas de inflação, fator essencial para um afrouxamento monetário.
A leitura é que a dupla formada por redução de temores de piora aguda das contas públicas com manutenção da taxa Selic em níveis elevados ao longo do ano, mesmo com eventual corte de juros no segundo semestre, dá sustentação à moeda brasileira. Além disso, nota-se uma diminuição do sentimento de aversão ao risco e da volatilidade no exterior, o que deixa o investidor estrangeiro mais confortável para buscar o retorno das altas taxas brasileiras.
"O novo arcabouço está alicerçado no aumento da arrecadação e deve manter acesa a chama da inflação, o que equivale a juros altos, atraindo o investidor", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, ressaltando que, no caso de hoje, o comportamento do dólar esteve sobre forte influência técnica da formação da última ptax de março.
Para o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, apesar de certas inconsistências na proposta do novo arcabouço, o sinal que fica para o investidor estrangeiro é o de que o governo tem um plano de voo para a gestão das contas públicas. "Ao mesmo tempo, o BC sinaliza que não tem intenção de cortar os juros tão cedo. A gente vai continuar com juro real muito alto e isso ajuda a nossa moeda", afirma Caciano, que não acredita, contudo, em recuo do dólar para R$ 5,00 no curto prazo. "Podemos ter uma correção na semana que vem após uma sequência muito forte de queda, que abriu oportunidade de compra".
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