Após trocas de sinal pela manhã, o dólar à vista se firmou em baixa e renovou mínima à tarde em meio ao movimento global de desvalorização da moeda americana e à queda das taxas dos Treasuries. Declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sugerindo "pouso suave" da economia dos EUA e cautela na condução da política monetária deram fôlego renovado a divisas emergentes. Uma vez eliminada a perspectiva de alta adicional de juros pelo Fed neste ano, ganha força a especulação em torno do início de processo de cortes, com apostas cada vez mais voltadas para março de 2024.
Com mínima a R$ 4,8689, o dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 1º, em baixa de 0,70%, cotado a R$ 4,8807. Na semana, a moeda recua 0,36%. Pela manhã, a divisa chegou a esboçar um movimento de alta e correu até máxima a R$ 4,9369, movimento atribuído a ajuste de posições no mercado futuro e a remessas para fora do país típicas de fim de ano. No acumulado de 2023, o dólar apresenta desvalorização de 7,56%.
O presidente do BC americano disse que o comitê de política monetária da instituição não precisa "agir com pressa", dados os efeitos defasados da alta de juros, e que a inflação "está indo na direção correta". Segundo Powell, é possível pôr a inflação rumo à meta de 2% sem impor perdas significativas no nível de emprego e com desaquecimento moderado da atividade - o tão sonhado "pouso suave" dos investidores.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, prevê dados mais fracos da economia americana nos próximos dos trimestres e ressalta que a política monetária nos EUA tem efeitos desasados mais demorados do que em países emergentes como o Brasil. Esse quadro sugere que o Fed já encerrou o ciclo de aperto monetário e pode antecipar o movimento de queda para o primeiro semestre do próximo ano.
"Tivemos uma mudança estrutural de cenário em novembro com dados mais amenos de inflação nos EUA. Essa dinâmica ajudou a promover uma valorização das moedas emergentes como o real", afirma Velho, ressaltando que há um retorno do fluxo de estrangeiros para a Bolsa brasileira, que se beneficia também do processo de redução da taxa Selic. "Mais da metade de entrada de estrangeiro para a bolsa no ano foi em novembro".
Dados da B3 mostram que no mês passado, até o dia 29, os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 18,48 bilhões na bolsa local. No acumulado do ano, as entradas líquidas de capital externo soma R$ 24,848 bilhões.
Em almoço anual da Febraban, em São Paulo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou que o ritmo de redução da Selic em 0,50 ponto porcentual por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) segue apropriado. Ele disse que não faz projeções para a taxa terminal, mas que, mesmo no fim do ciclo de cortes, a política monetária seguirá em terreno restritivo.
Ontem, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, relatou que, em conversas recentes, tem percebido no mercado um sentimento de que haveria espaço para acelerar os cortes de juros - no que foi interpretado por uma ala dos investidores como um sinal de que o BC já consideraria um ritmo mais forte de redução da Selic.
"Uma queda mais forte da Selic poderia impulsionar o dólar. Mas não é o caso agora porque o ciclo de cortes já está bem precificado e o cenário externo é preponderante", diz Velho, que, por ora, vê o mercado complacente com a questão fiscal. "O governo reforçou o compromisso com a meta de déficit zero, mas podemos voltar a ter um estresse lá por março, com a provável mudança de meta e a falta de disposição do governo de fazer contingenciamento".
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