Após ensaiar uma baixa mais pronunciada pela manhã, quando rompeu o piso de
R$ 4,8500, o dólar à vista recuperou parte do fôlego ao longo da tarde, em meio a perdas mais fortes do Ibovespa e à escalada dos juros futuros locais e dos Treasuries. Embora a leitura benigna do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA em maio tenha endossado a aposta em manutenção da taxa de juros na reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o BC americano) amanhã, ganhou corpo ao longo da tarde a expectativa de retomada do aperto em julho.
Entre máxima a R$ 4,8795 e mínima a R$ 4,8485, o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 0,08%, cotado a R$ 4,8624, ainda no menor valor de fechamento desde 6 de junho do ano passado. No mês, a divisa acumula desvalorização de 4,15%, com queda em sete dos oito pregões de junho.
No exterior, o dia foi de enfraquecimento da moeda americana. O índice DXY recuou para a casa dos 103,300 pontos, com quedas frente ao euro e, em especial, à libra esterlina. Dados positivos do mercado de trabalho no Reino Unido, com queda da taxa de desemprego, alimentaram as expectativas de mais alta de juros pelo Banco da Inglaterra (BoE). O rendimento do título público britânico (Gilt) de 2 anos alcançou maior nível desde agosto de 2008.
Divisas emergentes e de países exportadores de produtos básicos ganharam terreno com a alta de preços de commodities metálicas e do petróleo, na esteira de melhora das perspectivas para a economia chinesa. O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) reduziu taxas de juros de crédito de curto prazo e de operações recompra. A moeda chinesa, o yuan, caiu ao menor valor frente ao dólar em seis meses.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que, apesar de o CPI confirmar a desaceleração da inflação, o mercado ainda está em dúvida sobre os próximos passos do Federal Reserve, após uma eventual pausa no ciclo de alta amanhã. "O mercado já antecipou bastante a parada do Fed neste mês, que tende a ser neutra para a moeda. Se ele decidir subir por mais tempo, seria um fator de risco. Mas se o Fed for mais 'dovish', pode haver um impulso novo para o dólar cair um pouco mais no curto prazo", afirma Lima, acrescentando que o real, apesar da rodada recente de valorização, ainda está depreciado em relação a seus pares.
Monitoramento do CME Group mostra que a aposta em manutenção amanhã da taxa básica na faixa entre 5,00% e 5,25% é quase unânime. Por outro lado, as chances de uma alta de 25 pontos-base em julho, que já eram majoritárias ontem, ultrapassaram os 60% hoje.
Além das expectativas para o rumo da política monetária americana, o destino do real está atrelado ao fôlego da economia chinesa. O economista da Western afirma que, embora o governo chinês mostre disposição em adotar medida para estimular o crescimento, as estimativas para a China continuam na margem piores do que se imaginava. A tão aguardada reabertura econômica do gigante asiático impulsiona mais o setor de serviços que o de bens, o que tem reflexos negativos para as commodities.
"Os preços das commodities metálicas e de energia ainda estão deprimidos. Na parte agrícola, temos questões climáticas e uma safra muito boa que estimula o saldo comercial. Mas essa questão das commodities põe um limite para a apreciação do real", diz Lima.
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