O mercado doméstico de câmbio se descolou do exterior hoje, em meio ao mal-estar causado pela decisão da Petrobras de não pagar dividendos extraordinários. Operadores mencionam que um forte movimento de compra de dólares no País - possivelmente refletindo a desmontagem de posições de estrangeiros na petroleira - levou à valorização expressiva da moeda americana contra o real na sessão.
No fim do pregão, o dólar à vista havia subido 0,96% em relação ao real, a R$ 4,9811, mais do que revertendo as quedas acumuladas desde quarta-feira. Com o movimento de hoje, fechou a semana não só com alta de 0,53%, mas também na maior cotação desde 26 de fevereiro, quando havia batido R$ 4,9815. Hoje, oscilou entre a mínima de R$ 4,9556 e a máxima de R$ 4,9918 - em altas de 0,44% e 1,18%, respectivamente.
O comportamento de outras moedas evidencia a pressão do noticiário doméstico sobre o dólar nesta sessão, segundo profissionais do mercado. A moeda americana perdeu força contra pares do real, como o peso mexicano (-0,45%), e outras divisas correlacionadas a commodities, a exemplo do dólar australiano (-0,11%). E o índice DXY, que mede a variação do dólar contra seis moedas fortes, cedeu 0,11%, a sétima baixa seguida.
"O que afetou mesmo o mercado hoje foi a Petrobras, esse balanço e o não pagamento de dividendos extras", afirma o chefe da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt. "Tanto que o peso mexicano está valorizando hoje e, aliás, está valorizando a semana inteira. O real estava vindo nessa direção, de valorizar, mas esse resultado da Petrobras deu uma estragada no mercado."
Ontem, depois do fim do pregão, a Petrobras informou que seu lucro líquido caiu 28,4% no quarto trimestre do ano passado, na comparação com o mesmo período de 2022, abaixo das expectativas. E o conselho de administração da estatal ficou dividido e decidiu não pagar dividendos extraordinários, o que já vinha sendo sinalizado pelo presidente da empresa, o ex-senador pelo PT do Rio Grande do Norte Jean Paul Prates. Hoje, as ações da petroleira fecharam o dia em queda de quase 10%.
Segundo Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, é nítido que o real sucumbiu hoje a um forte fluxo comprador de dólares. O profissional pondera que é difícil confirmar se esse movimento responde ou não à desmontagem de posições, mas reconhece que o noticiário sobre a estatal azedou o mercado hoje.
Aqui, os investidores ainda repercutiram declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse ontem que pode tentar aumentar o limite de gastos este ano, já que a arrecadação tem surpreendido para cima. No mercado de câmbio, também pesaram as quedas em torno de 1% dos preços do petróleo e do minério de ferro.
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