Após três pregões consecutivos de valorização, em que ameaçou fechar acima de R$ 4,90, o dólar à vista recuou na sessão desta sexta-feira, 4. Segundo operadores, houve um movimento natural de ajuste de posições e realização de lucros em meio ao enfraquecimento da moeda norte-americana no exterior, em especial na comparação com divisas emergentes pares do real como pesos mexicano e colombiano.
Dados mistos do relatório de empregos (payroll) nos EUA, mas com geração de vagas abaixo do esperado em julho, deram força a apostas de que não haverá nova alta dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em setembro. As taxas dos Treasuries recuaram após a escalada dos últimos dias.
Com mínima a R$ 4,8471 na primeira etapa de negócios, o dólar diminui o ritmo de perdas ao longo da tarde em sintonia com seu comportamento lá fora e a piora das bolsas em Nova York. No fim do dia, a divisa era cotada a R$ 4,8753, em baixa de 0,48%. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro teve giro razoável, acima de US$ 12 bilhões.
Apesar do refresco nesta sexta, o dólar à vista encerra a semana com valorização de 3,05%. Nos quatro primeiros pregões de agosto, houve ganhos de 3,08%, após queda de 1,25% em julho. Em relação aos pares, o real sofreu mais que os pesos mexicano e chileno na semana, mas teve desempenho superior ao registrado por peso colombiano e rand sul-africano.
Analistas veem um movimento de realização de lucros com divisas emergentes de países latino-americanos, que já embarcaram - caso de Brasil e Chile - ou estão prestes a embarcar em um ciclo de redução de juros, na contramão da tendência para a política monetária nos países desenvolvidos. Por aqui, a decisão do Copom na quarta-feira, 2, de reduzir a Selic em 0,50 pontos-base e contratar mais reduções da mesma magnitude contribui, segundo analistas, para parte da depreciação da moeda brasileira.
O diretor de Tesouraria do banco de câmbio Braza Bank, Bruno Perottoni, observa que pelo menos metade da baixa do real na quinta-feira pode ser atribuída à reação dos investidores ao comunicado do Copom. Mais do que a decisão em si, de corte de 0,50 ponto porcentual, trouxe desconforto a contratação de reduções seguidas de 0,50 ponto.
"Esse fato de cravar cortes seguidos de 0,50 jogou gasolina no mercado. Esse ímpeto de reduzir juros pode dar uma estressada no câmbio, uma vez que Estados Unidos e Europa mantêm taxas altas", afirma Perottoni.
O tesoureiro do Braza Bank chama a atenção para o fato de que a votação dividida e a mudança na composição da diretoria no fim do ano, com troca de dois diretores, sugerem alteração na gestão da política monetária.
Terminam neste ano os mandatos dos diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos) e Maurício Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta), dois dos que votaram nesta semana por queda de 0,25 ponto. Dois novos diretores indicados pelo governo Lula - Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Aílton Aquino (Fiscalização) optaram pelo corte de 0,50 ponto, no que foram acompanhados pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.
"Considerando cenário de alta de juros lá fora, se esse novo Copom levar a Selic para menos de 10%, para algo como 8% ou 7%, vai haver uma mudança na atratividade do carry trade, o que terá reflexos no mercado de câmbio", afirma Perottoni, que espera mais explicações sobre o rumo da política monetária na ata do comitê na semana que vem.
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