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Diversidade é vista como valor, mas somente 4,75% das gestoras de fundos são mulheres

"Muitas vezes ainda sou a única mulher na mesa". A percepção de Michelle Lauande, gestora de fundos de infraestrutura da Santander Asset, não é isolada no mercado financeiro - que dirá nos times de gestão. Isso é corroborado pelo dado de que apenas 50 dos

Bruna Camargo (via Agência Estado)

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Escrito por Bruna Camargo (via Agência Estado)
Publicado em 09.03.2024, 13:06:00 Editado em 09.03.2024, 13:11:26
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"Muitas vezes ainda sou a única mulher na mesa". A percepção de Michelle Lauande, gestora de fundos de infraestrutura da Santander Asset, não é isolada no mercado financeiro - que dirá nos times de gestão. Isso é corroborado pelo dado de que apenas 50 dos 1.052 gestores de fundos de investimentos brasileiros são mulheres, ou seja, somente 4,75% do total.

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Olhando para os veículos, dos 25.321 fundos líquidos (CVM 555/175), os que têm mulheres no comando são 1.491 (5,89%), o que representa um patrimônio líquido (PL) de aproximadamente R$ 1,468 trilhão nas mãos delas. Os números, de um levantamento elaborado pela Quantum Finance, mostram como o mercado de gestão de fundos possui baixa representatividade feminina - ainda que, segundo as especialistas ouvidas peloBroadcast Investimentos, a diversidade só traz benefícios para a atividade.

Lauande é a única mulher de uma equipe de cerca de 20 gestores da Santander Asset. Desde que começou a trabalhar no mercado financeiro, há 11 anos, convive majoritariamente com homens, e sua avaliação é de que, atualmente, as mulheres não ocupam o espaço pela falta de uma "identificação imediata".

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"Há uma imagem de que no mercado financeiro todo mundo trabalha demais, se exige demais, e nem sempre é possível se adaptar a isso, e de que é um ambiente extremamente masculino, onde mulheres se sentem menos aceitas. São as duas principais barreiras", diz Lauande. Sobre o primeiro ponto, ela destaca que, embora seja construtivo que mulheres busquem flexibilidade e equilíbrio na vida pessoal e profissional, o fato de colocarem muito peso nas decisões e como elas afetam planos futuros - o que ela entende como qualidade - é um "freio" na carreira". "Já um homem só vai."

A "síndrome do impostor" - no caso, "da impostora" -, segundo à qual o indivíduo tem uma tendência à autossabotagem, também é um problema, segundo Fayga Czerniakowski Delbem, superintendente de crédito privado da Itaú Asset. Responsável por uma área com 15 profissionais - dos quais quatro são mulheres - e R$ 300 bilhões, Delbem observa como a autoconfiança feminina é menor em relação à masculina. "Em entrevistas de emprego, mulheres falavam não estar preparadas enquanto homens garantiam mandar bem. A questão é que os dois estão prontos, mas a forma como se colocam é diferente", diz.

Há 32 anos no mercado financeiro, Isabel Lemos, gestora de renda variável do Fator Gestão de Recursos, diz ainda que um ambiente de trabalho receptivo faz toda a diferença - e ela acredita ter tido essa sorte. Após fazer um mestrado nos Estados Unidos, ela voltou para o Brasil com foco no mercado financeiro e encontrou no Fator a oportunidade de iniciar a carreira em análise e seguir para a gestão. Ficou na empresa por 10 anos, explorou outros lugares e retornou ao grupo em 2017.

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"Quando comecei na gestão, no fim dos anos 1990, não haviam muitas regras sobre diversidade, horário de trabalho, mas o viés do controlador do Fator era de escutar as pessoas", afirma Lemos. E, ouvindo diferentes profissionais, formava-se a compreensão de que as mulheres contribuem com visões diferentes. "O interessante no mercado é ter essas ideias diferentes, contrapontos."

O fato de a diversidade na equipe trazer perspectivas diversas é destacado por todas as especialistas. Para Delbem, da Itaú Asset, mais que gêneros diferentes, backgrounds (experiência), formações e "cabeças" diferentes proporcionam complementaridade, o que beneficia as discussões para o trabalho de gestão. Vivian Lee, sócia e diretora de investimentos (CIO) da área de crédito da Ibiuna Investimentos, concorda: "Isso possibilita uma tomada de decisão de mais qualidade", diz, acrescentando que isso precisa estar alinhado a profissionais dedicados para que a equipe "vá mais longe".

Entre os desafios, 'futebol e cervejinha', idade e maternidade

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Outra questão unânime entre as gestoras é que os homens confraternizam entre si, com "futebol e cervejinha" depois do trabalho. Então se a mulher não se interessa por esses assuntos ou não tem tempo para socializar, fica de fora da possibilidade de estreitamento de laços. "Uma mulher acaba não saindo com os homens para beber porque precisa voltar para casa, tem tarefas, precisa cuidar do filho. Não consegue conciliar tudo", diz Lemos, do Fator.

Mas Lauande, da Santander Asset, insistiu para se adaptar e impor sua presença, inclusive na "cervejinha" - não chegou ao futebol, brinca. Uma questão maior com a qual precisou lidar foi a idade, já que recém chegou na casa dos 30 anos, sendo oito deles vividos na gestão de fundos. "Havia um questionamento constante da minha senioridade. Ninguém olha para minha trajetória e não importa o quanto tenhamos competência, a mulher sempre tem que se provar mais", diz.

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Grupos de networking e ações internas

Um ambiente diverso e chefes - mesmo que homens - em busca de quebrar vieses de gênero são importantes. Elas reforçam, inclusive, que não teriam chegado onde chegaram sem o apoio e incentivo de homens. Mas as especialistas também têm "levantado as mangas" para tentar aumentar o número de mulheres no mercado financeiro.

Lee, da Ibiuna Investimentos, participa de um grupo de networking (rede de relacionamentos) para promover ações de apoio, conversas, trocas de experiência e promoção de vagas. Até cafés virtuais ela chega a fazer com quem a procura em busca de mentoria. "Mulheres falam pouco, sofrem e tentam resolver sozinhas. Mas é importante escutar alguém que já passou por aquilo e quanto mais a gente se apoiar, melhor", afirma a gestora.

Na Itaú Asset, há o grupo iELA - no qual o "ELA" se refere à "empoderamento e liderança no atacado" -, que promove ações de networking, aspectos culturais e encarreiramento, com o objetivo de aumentar a participação feminina na liderança do grupo, segundo Delbem. Outra ação interna é o comitê de sucessão, uma banca utilizada para preencher certos postos. Dos três ou quatro avaliadores, pelo menos um precisa ser mulher.

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