Após defender na semana passada que a extinção do rotativo do cartão de crédito venha acompanhada do fim do parcelado sem juros, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 15, que não quer antecipar uma solução para o problema do alto endividamento das famílias com o instrumento. Depois de ser criticado por parlamentares, entidades comerciais e o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Campos Neto reconheceu que o fim do parcelado sem juros pode afetar o varejo. "O cartão de crédito é muito relevante no consumo, não conheço nenhum outro país em que o cartão represente 40% do consumo. É difícil achar país com velocidade de emissões de cartões como o Brasil", afirmou, em evento na sede da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE). Campos Neto repetiu que o uso disseminado do parcelado com juros levou a endividamento muito grande das famílias e alertou que a alta inadimplência dos cartões - acima de 50% - pode levar até mesmo ao fim do instrumento. "Debatemos vários tipos de solução para o cartão de crédito e não quero antecipar aqui. Simplesmente limitar juros do cartão levaria bancos a retirarem cartões de circulação. Ao mesmo tempo, fim do parcelado sem juros poderia afetar comércio", completou.
No mesmo evento, o presidente do Banco Central afirmou ser contra a criação de um imposto digital, nos moldes da CPMF. Ele foi questionado sobre a retomada da cobrança como uma alternativa para compensar a desoneração da folha de pagamento. "Em relação ao imposto digital, tem que separar o que é um imposto de transação financeira de como cobrar com mais eficiência do setor informal. Sobre a CPMF, eu sou muito contra, ela gera uma distorção muito grande. Você onera mais o que você deveria onerar menos e cria todos os tipos de distorções", disse. Ainda em relação ao imposto digital, Campos Neto disse que o problema da cobrança é que "você sabe como começa, mas não sabe como termina". "Vai onerar muito, e ele não é cobrado no mundo inteiro. Onde foi adotado, voltaram atrás", disse. Ele defendeu que se avance na nota fiscal eletrônica, que vai fazer uma cobrança mais eficiente. Campos Neto também comentou sobre a reforma tributária em tramitação no Congresso e disse que, ainda que não seja a ideal, endereça grande parte das distorções do sistema, como discussões entre bens e serviços, local de produção e local de consumo e capital versus mão de obra.
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