MAIS LIDAS
VER TODOS

Economia

'Debate atropelado sobre teto pode levar País a feudalismo fiscal'

Especialista na legislação das contas públicas e procuradora do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo, a advogada Élida Graziane alerta para o risco de um debate "atropelado" sobre mudanças no teto de gasto levar o País ao "feudalismo fiscal

Da Redação

·
Escrito por Da Redação
Publicado em 15.08.2020, 12:10:00 Editado em 15.08.2020, 20:25:39
Imagen google News
Siga o TNOnline no Google News
Associe sua marca ao jornalismo sério e de credibilidade, anuncie no TNOnline.
Continua após publicidade

Especialista na legislação das contas públicas e procuradora do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo, a advogada Élida Graziane alerta para o risco de um debate "atropelado" sobre mudanças no teto de gasto levar o País ao "feudalismo fiscal", com cada setor querendo o seu "quinhão" em ano eleitoral. Ela afirma que mudanças no mecanismo que condiciona o avanço dos gastos à inflação devem ser feitas junto com o Orçamento de 2021. "O problema do teto neste momento é 'onde passa um boi, passa uma boiada'. Se não fizer um regramento consistente, voltamos para o puro feudalismo fiscal, terra arrasada." A seguir, os principais trechos da entrevista.

continua após publicidade

Como a sra. avalia o debate sobre mudanças no teto de gastos?

continua após publicidade

Se não fizer no momento certo, pode sair atropelado. Perdemos a oportunidade de dar a racionalidade necessária, e (agora) pode virar uma solução tampão.

Qual é esse risco?

Vejo a necessidade de alterar a emenda 95 (que instituiu o teto) desde o projeto de LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2021. Desde abril, quando foi enviado, venho escrevendo que não se sustenta. Tecnicamente, vai ter problemas. Precisamos aproveitar a LDO para fazer esse debate pausado, impessoal, planejado. Já se sabia que o teto precisaria ser revisto.

continua após publicidade

Por quê?

A gestão não vai se encerrar em 31 de dezembro deste ano. Não dá para usar crédito extraordinário em 2021 (esses créditos ficam de fora da administração do teto de gastos). O crédito extraordinário na forma do artigo 167 da Constituição exige dois requisitos: a imprevisibilidade e a urgência. Já é previsível o cenário de calamidade que continua no ano que vem. Como é previsível, há o dever de inserir na lei orçamentária.

continua após publicidade

Há restrição, então, do uso do crédito extraordinário numa situação previsível?

Eles não podem ser usados só porque se declarou calamidade. A calamidade, continuando em 2021, tendo a previsibilidade, não é suficiente para usar crédito extraordinário em 2021. O Supremo vetou o uso de créditos extraordinários para despesas previsíveis.

continua após publicidade

O governo não pode pegar o que sobrar desses créditos aprovados em 2020 e usar no ano que vem?

Não. O que sobrar de 2020 não dá para usar como restos a pagar (despesas transferidas de um ano para o outro) porque quebra o segundo requisito dos créditos extraordinários, que é o da urgência. O crédito foi aberto para usar em 2020. De uma certa forma, o que o governo está fazendo é fraudar a finalidade do instituto do crédito extraordinário.

Qual a saída?

continua após publicidade

Um plano bienal de enfrentamento da calamidade. Criando um critério de transição sem romper todas as regras fiscais. Dentro da exceção que já existe no teto, dos repasses federativos via FPM e FPE, os fundos de participação dos Estados e municípios. Eles (Estados e municípios) estão tendo derrocada da arrecadação tributária. Não precisa nem mexer na Constituição para que haja uma autorização da União para sustentar os serviços básicos essenciais, no SUS, na educação.

E a tentativa do governo de usar uma medida provisória para concluir obras com créditos extraordinários?

O TCU (Tribunal de Contas da União) vai refutar e o STF (Supremo Tribunal Federal), com certeza, também. É um desvio de finalidade. É uma fraude. Não tem urgência nem previsibilidade.

continua após publicidade

O governo diz que essa possibilidade está prevista no 'orçamento de guerra'. Obras paradas se encaixam?

Que tipo de obra se sustenta nesse artigo? É aquilo que tem correlação imediata com a pandemia. O gestor fazer uma obra meramente cosmética, que não enfrente a pandemia, não cabe. Mas o debate do saneamento básico que melhora as condições da população para se prevenir, nesse momento importa.

continua após publicidade

A discussão seria obra por obra?

É isso. O governo vai ter de fazer um planejamento já com todo o rol de todas as obras, colocar critérios mais detidos. Tem de ter um planejamento impessoal; senão, vira o curto prazo eleitoral do gestor, só para agradar um curral eleitoral específico.

continua após publicidade

Qual é o futuro do teto?

Neste momento, é perigoso fazer uma alteração que não tenha critérios. Por isso, a ideia de um plano bienal de gestão da calamidade. É uma justiça fiscal de transição. É um conceito duro, mas é preciso ter a ideia de que a calamidade é comparável à guerra. Fazer a transição de 2021, sem mexer muito na emenda do teto, sem abrir um flanco tão grande. Mais cedo ou mais tarde, teremos de alterar o teto.

Como vê a pressão por gasto?

É o calendário eleitoral. O problema do teto neste momento é onde passa um boi, passa uma boiada. Se não fizer um regramento consistente, voltaremos para o puro feudalismo fiscal, terra arrasada.

O que é isso?

Cada um querendo o seu quinhão na frente dos demais, sem um parâmetro de ordenação legítimo de prioridades. Sem controle. Farinha pouca, meu pirão primeiro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Gostou desta matéria? Compartilhe!

Icone FaceBook
Icone Whattsapp
Icone Linkedin
Icone Twitter

Mais matérias de Economia

    Deixe seu comentário sobre: "'Debate atropelado sobre teto pode levar País a feudalismo fiscal'"

    O portal TNOnline.com.br não se responsabiliza pelos comentários, opiniões, depoimentos, mensagens ou qualquer outro tipo de conteúdo. Seu comentário passará por um filtro de moderação. O portal TNOnline.com.br não se obriga a publicar caso não esteja de acordo com a política de privacidade do site. Leia aqui o termo de uso e responsabilidade.
    Compartilhe! x

    Inscreva-se na nossa newsletter

    Notícia em primeira mão no início do dia, inscreva-se agora!