MAIS LIDAS
VER TODOS

Economia

Crise expõe falhas do modelo elétrico

Em meio à pior crise hídrica dos últimos 90 anos, o País volta a discutir os riscos de ter apagões e de apelar a um racionamento - alternativa encontrada para a crise em 2001. Falhas no planejamento e na operação do sistema elétrico, bem como no modelo de

Da Redação

·
Escrito por Da Redação
Publicado em 20.06.2021, 07:30:00 Editado em 20.06.2021, 07:36:20
Imagen google News
Siga o TNOnline no Google News
Associe sua marca ao jornalismo sério e de credibilidade, anuncie no TNOnline.
Continua após publicidade

Em meio à pior crise hídrica dos últimos 90 anos, o País volta a discutir os riscos de ter apagões e de apelar a um racionamento - alternativa encontrada para a crise em 2001. Falhas no planejamento e na operação do sistema elétrico, bem como no modelo de formação de preços de energia, são apontadas como as causas por trás da situação que já afeta a inflação, ameaça o crescimento econômico e pode até colocar em xeque o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

continua após publicidade

Presidente da PSR, maior consultoria de energia do País, Luiz Barroso afirma que o planejamento do setor é centrado na chamada garantia física, indicador que traduz quanto uma usina contribui para a segurança do suprimento. "O problema é que, no Brasil, a garantia física nem garante, nem é física", diz. Ele explica que a garantia física é calculada com base em modelos computacionais que precisam ser aperfeiçoados - a metodologia foi definida em 2004. "Ela não representa a expectativa de produção de uma usina, e sim seu valor econômico ao sistema", diz.

Um exemplo é Belo Monte, no Pará, que tem uma garantia física de 4.571 megawatts médios. O número não representa com precisão a característica de uma usina a fio d'água e que depende das chuvas: nos meses úmidos, gera o triplo da energia produzida em meses mais secos, em que a capacidade é de 1.963 megawatts médios. Isso significa que, nos meses úmidos, Belo Monte gera o suficiente para abastecer famílias e empresas dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Nos secos, a produção é capaz de suprir apenas Pernambuco.

continua após publicidade

Se não traduz o que ocorre com a geração de energia, a garantia física é usada como referência para o quanto elas podem vender em contratos - ou seja, possui importância comercial. É por isso que há resistência a qualquer iniciativa do governo de recálculo das garantias físicas e de ajuste desses números para patamares mais realistas. Nos últimos 20 anos, destaca Barroso, houve só uma revisão, em 2017, e ainda assim muitas empresas foram à Justiça para não perder receita. Uma garantia física superestimada, como a que o País tem hoje, significa, também, menor necessidade de contratação de mais usinas em leilões para ofertar energia porque o sistema diz que a quantidade é suficiente.

Além disso, o modelo de cálculo de preços, também usado para estimar a garantia física, não representa em detalhes o parque gerador. Tampouco é alimentado com dados relativos às mudanças climáticas, que afetam as chuvas, e ao uso múltiplo das águas.

Outro fator que a Barroso destaca é que a performance das hidrelétricas tem sido pior do que o esperado já há alguns anos. Em 2012, a sua consultoria estimou que as usinas gastavam 4% a mais de água do que o necessário para produzir um mesmo megawatt-hora - hoje, gastam 2%, nível ainda ruim. Entre as hipóteses, estão assoreamento de reservatórios, turbinas antigas e até roubo de água para irrigação e piscicultura, além de restrições não capturadas no modelo de planejamento.

continua após publicidade

"Em muitas usinas, não conseguimos armazenar mais água porque precisamos manter um fluxo mínimo de água para atender outros usos. E isso não é bem representado no cálculo da garantia física pela simplificação do modelo", diz. "Em momento de estresse, o ideal é fechar o ralo para encher a pia, mas isso não é simples."

Para ele, o sistema vai mudar, com hidrelétricas como bateria, compensando a geração das fontes intermitentes, como solar e eólica. "As renováveis ajudam a compensar a variabilidade das hidrelétricas", afirma.

O ex-diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) Luiz Eduardo Barata concorda. Ele defende a expansão do parque de eólicas e solares. "As térmicas nos ajudam a reduzir esse tipo de problema, mas continuo achando que não são a solução. Precisamos colocar mais fontes renováveis, como eólica e solar, a ponto de recuperar os níveis dos reservatórios", afirma.

continua após publicidade

Apagão

Para o presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso, o apagão é um risco, mas não uma certeza. Segundo ele, o governo tem hoje um rol de alternativas maior do que tinha em 2001, quando houve racionamento. Se a situação é difícil no Sudeste e no Centro-Oeste, onde ficam as principais hidrelétricas, o nível de armazenamento no Norte, no Nordeste e mesmo no Sul é mais confortável. O sistema de linhas de transmissão é hoje mais robusto, o que permite transferências de energia de uma região para outra antes impossíveis. A oferta de energia é maior, e as fontes, mais diversas, com mais eólicas e solares termoelétricas. É possível ainda recorrer à importação de energia da Argentina e do Uruguai. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Gostou desta matéria? Compartilhe!

Icone FaceBook
Icone Whattsapp
Icone Linkedin
Icone Twitter

Mais matérias de Economia

    Deixe seu comentário sobre: "Crise expõe falhas do modelo elétrico"

    O portal TNOnline.com.br não se responsabiliza pelos comentários, opiniões, depoimentos, mensagens ou qualquer outro tipo de conteúdo. Seu comentário passará por um filtro de moderação. O portal TNOnline.com.br não se obriga a publicar caso não esteja de acordo com a política de privacidade do site. Leia aqui o termo de uso e responsabilidade.
    Compartilhe! x

    Inscreva-se na nossa newsletter

    Notícia em primeira mão no início do dia, inscreva-se agora!