Os surpreendentes cortes de juros da China nesta semana têm sido vistos como evidências da disposição do governo de impulsionar o crescimento econômico. Para economistas, os anúncios também lançam luz sobre mudanças no arcabouço da política monetária, incluindo dar um papel menor para um importante instrumento de empréstimo.
O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) começou a rodada de relaxamento com uma redução na taxa de recompra reversa de 7 dias, na segunda-feira. Isso se seguiu a um corte no mesmo dia na taxa de referência de empréstimos (LPR, na sigla em inglês). Na quinta-feira, o banco central voltou a pegar os mercados com a guarda baixa, com uma inesperada redução na taxa para empréstimos de médio prazo (MLF, na sigla em inglês). Isso marcou uma diferença com o passado, não apenas pelo momento da mudança na operação de MLF, mas também pois os cortes na taxa de mais longo prazo tendem a preceder e guiar as taxas primárias, não o contrário.
Esta foi também a segunda operação na MLF em julho, após o PBoC ter mantido a taxa inalterada por 11 meses seguidos. Duas operações do tipo em um mês não é a norma, disseram economistas do HSBC em nota, com um episódio anterior em novembro de 2020, após o default de uma empresa estatal assustar mercados.
Economistas em geral interpretaram a sequência não usual desta semana como evidência de que a importância da MLF está sendo diminuída de propósito, no momento em que o PBoC busca que as taxas de curto prazo tenham mais peso em orientar os mercados. Nas últimas semanas, a imprensa estatal também sugeriu que a taxa principal, a LPR, poderia ser desvinculada da MLF, para melhora refletir os custos de empréstimo na economia. "Com o corte da LPR antes da MLF nesta semana, o papel da MLF como taxa de política monetária diminui rápido", avaliaram economistas do Nomura nesta semana, em nota a clientes.
Para economistas do Goldman Sachs, o fato de que a LPR caiu junto com a taxa de recompra de 7 dias indica uma potencial reancoragem da LPR da MLF de 1 ano para a taxa de recompra reversa no curto prazo. Em junho, o presidente do PBoC, Pan Gongsheng, havia indicado que a taxa de recompra reversa em 7 dias passaria a ser a nova referência na política monetária, no contexto em que ele busca simplificar a complexa rede de taxas do PBoC.
Economistas do OCBC notaram, porém, que o banco central provavelmente ainda vê mérito em estender empréstimos ligados à MLF como fonte de financiamento para bancos, por ora. Mas assim que as operações de bônus do Tesouro chinês do banco central começarem, o papel da MLF como instrumento para gerenciar capital deve diminuir mais, acreditam analistas.
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