Os pagamentos do Bolsa Família proporcionaram uma melhora na inadimplência entre as famílias mais pobres em abril, mas os juros elevados pioraram a situação financeira nos lares de classe média, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A proporção de famílias com dívidas foi de 78,3% em abril, mesmo patamar de março. No entanto, o resultado ainda foi maior do que os 77,7% registrados em abril do ano passado, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
No grupo com contas a vencer em abril, 17,3% consideravam-se muito endividados, "indicador que voltou a crescer após duas quedas, por conta dos juros elevados", apontou a CNC.
A pesquisa considera como dívidas os pagamentos a vencer em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa.
A proporção de famílias inadimplentes, com dívidas em atraso, recuou de 29,4% em março para 29,1% em abril, a quarta queda consecutiva.
"A melhora da renda disponível com a evolução positiva do mercado de trabalho e o alívio da inflação atenuaram a proporção de consumidores que atrasaram dívidas em abril", justificou a CNC. "Quem tem dívidas atrasadas há mais tempo, porém, segue enfrentando dificuldade de sair da inadimplência, em função dos juros elevados que pioram as despesas financeiras. A taxa de juros média em todas as operações de crédito com recursos livres às pessoas físicas chegou a 58,3% ao ano em março, 8,7 pontos maior do que no mesmo mês do ano passado, de acordo com os dados do Banco Central", completou.
A entidade ressalta que a inadimplência piorou entre as famílias de classe média em abril. No grupo com renda mensal entre cinco e dez salários mínimos, a proporção de inadimplentes cresceu de 21,5% em março para 22,6% em abril. Na faixa mais pobre, com renda até três salários mínimos mensais, a proporção de inadimplentes caiu de 36,9% em março para 36,3% em abril.
Os valores mais altos do Bolsa Família e as contratações formais de pessoas de menor nível de escolaridade têm auxiliado as famílias de renda mais baixa no pagamento de dívidas, apontou a economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa da CNC.
"São elas também o principal foco de renegociações, mas o risco da inadimplência se acirrou na classe média", ponderou Ferreira, em nota oficial.
A proporção de consumidores sem condições de pagar dívidas já atrasadas - e que, portanto, permanecerão inadimplentes - subiu de 11,5% em março para 11,6% em abril.
"O volume de pessoas com dívidas atrasadas por mais de 90 dias segue em tendência de crescimento: a cada 100 consumidores inadimplentes em abril, 45 estavam com atrasos por mais de três meses", mostrou a nota da CNC.
A entidade projeta que a proporção de endividados volte a crescer a partir de julho deste ano, encerrando o ano em nova máxima histórica. Já a fatia de famílias com dívidas em atraso por mais de três meses diminuiria apenas no fim de 2023, "em um cenário sem programas de regularização de dívidas atrasadas entre os mais pobres".
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