O Banco Central (BC) chamou a atenção na ata do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) realizada na semana passada, para a movimentação atípica do mercado financeiro global desde a reunião de março. "Após a última reunião do Comef, o sistema financeiro internacional experimentou momentos de estresse relevante", trouxe a ata divulgada há pouco.
O Comef salientou que a resolução de três bancos de porte médio nos Estados Unidos e questionamentos sobre a saúde financeira de um banco globalmente sistêmico na Suíça, que culminou na compra por outra instituição de grande porte, trouxeram preocupações sobre a estabilidade financeira nos países avançados. A consequência foi o aumento da aversão global ao risco e impactos sobre os preços de diversos ativos financeiros.
Nos Estados Unidos, ressaltou o BC, algumas instituições financeiras ainda enfrentam desafios na captação de depósitos e no gerenciamento de liquidez. "Desde o início do estresse até o momento, observa-se saída líquida de depósitos dos bancos americanos, especialmente os de médio porte, parcialmente direcionados para fundos de investimento (money market funds)", frisou.
As incertezas sobre os desdobramentos futuros do estresse bancário, inclusive sobre concessões de crédito, são elevadas, de acordo com o BC. "Desde março, observa-se acentuada desaceleração no crescimento do crédito e, em alguns segmentos, como empréstimos a empresas (commercial and investment loans), há contração dos saldos na margem."
A ata também analisou que a exposição do segmento de bancos médios ao setor imobiliário comercial, que continua sendo afetado pelos elevados níveis de vacância de escritórios desde a crise de covid-19, e a importância do segmento para o crédito imobiliário em geral, são pontos de atenção. As autoridades internacionais, segundo o BC, têm atuado para restaurar a confiança nos sistemas financeiros e evitar o contágio para outras instituições e outras jurisdições.
O Comef citou que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) tem provido suporte aos bancos mais afetados, por meio de linhas de liquidez, enquanto os reguladores americanos vêm apresentando propostas de medidas para endereçar as vulnerabilidades no sistema financeiro. "De forma preventiva, várias jurisdições mantiveram ou aumentaram seus buffers contracíclicos de capital desde o último Comef, levando em conta, segundo suas comunicações, o cenário de política monetária restritiva, condições de crédito mais apertadas, deterioração da capacidade de pagamento de dívidas das famílias, elevada incerteza sobre os desdobramentos do estresse bancário recente, e, em alguns casos, riscos nos mercados imobiliários."
Na semana passada, o Comef manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em zero. O ACCPBrasil é uma parcela do capital a ser acumulada na expansão do ciclo de crédito e consumida em sua contração. O instrumento trata o risco sistêmico cíclico do crédito e dos preços dos ativos.
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