Os preços ao consumidor na Argentina dispararam 12,4% em agosto em relação ao mês anterior, a taxa mais alta desde fevereiro de 1991, número que coloca o governo na defensiva a pouco mais de um mês das eleições presidenciais nas quais um populista de direita que admira Donald Trump parece o favorito para vencer.
A taxa de inflação anual subiu para 124,4%, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), na quarta-feira, 14.
A Argentina vem sofrendo inflação galopante há anos, mas agosto marcou a primeira vez em mais de duas décadas que a taxa mensal atingiu dois dígitos, um fenômeno que provavelmente se repetirá em setembro, segundo economistas.
Em meio ao forte aumento dos preços ao consumidor, o ministro da Economia e candidato a presidente, Sergio Massa, está tentando convencer os argentinos a elegê-lo em vez de Javier Milei, um autodenominado "anarco capitalista" que abalou o sistema político argentino ao receber o maior número de votos nas primárias nacionais do mês passado.
"É o número que resume a tragédia deixada por Massa", escreveu Patricia Bullrich, candidata presidencial da principal coligação da oposição, nas redes sociais, após a divulgação do número da inflação. Pesquisas recentes mostram Milei liderando antes das eleições gerais de 22 de outubro, com Massa em segundo lugar e Bullrich em terceiro.
A elevada taxa de inflação é, em grande parte, um produto da desvalorização pelo governo da moeda local, o peso, em quase 20% após as primárias de 13 de agosto.
"A aceleração (da inflação) é o repasse da desvalorização", disse Martín Kalos, economista que é diretor da consultoria local Epyca Consultores. "O número não é maior porque a desvalorização capturou apenas 15 dias de agosto. É por isso que o piso é alto para setembro."
A inflação em agosto foi particularmente elevada para os produtos alimentares, que aumentaram 15,6% em relação a julho, com o preço de alguns cortes de carne bovina subindo até 40%, segundo o Indec.
O aumento real que os consumidores observaram nos pontos de venda foi provavelmente ainda maior. O preço da carne bovina aos consumidores aumentou entre 40% e 70% desde julho, segundo Diego Ponti, analista pecuário da AZGroup, uma consultoria local. Ponti disse que o forte aumento nos preços teve a ver com uma confluência de fatores, incluindo a forma como os preços da carne bovina permaneceram em grande parte congelados por meses, apesar da economia inflacionária.
Mariela Suchowieski, 18 anos, tem percebido o efeito dos aumentos de preços em sua dieta. "Nós nem compramos mais carne bovina. Compramos uma vez por mês e vamos dividindo aos poucos", disse ela. "Tudo é muito caro."
Suchowieski refletiu sobre os efeitos do aumento dos preços enquanto participava de um comício para Milei na terça-feira em La Plata, uma cidade a cerca de 60 quilômetros a sudeste de Buenos Aires. Centenas de pessoas reuniram-se para celebrar o homem que disse que a resposta aos problemas inflacionários da Argentina é adotar o dólar americano como moeda oficial.
Um Milei exultante assinou seu autógrafo em notas de 500 pesos, que valem menos de US$ 1 no mercado negro, um reflexo de como a moeda local se desvalorizou no último ano. Ao seu redor, apoiadores que tratam Milei como uma estrela do rock expressaram raiva com a atual liderança política.
"Tudo foi feito errado", disse Juan Pedro Aquino, 61 anos, que atribuiu os problemas do país ao acesso dos políticos ao que chamou de "pequena máquina", uma referência à sua propensão para imprimir dinheiro, que é um dos gritos de guerra de Milei.
Essa raiva contra o governo está se revelando um desafio particular para Massa, que revelou medidas para tentar aumentar o poder de compra dos salários.
"Massa é um candidato que carrega o fardo de ser ministro", disse Kalos. "Ele é um candidato presidencial que deve encontrar um equilíbrio entre a resposta à crise que não foi capaz de dar como ministro e a promessa de que poderia entregá-la como presidente."
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