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Após o Carrefour, mais um grupo francês boicota carne do Mercosul

Na quarta-feira, 20, um comunicado do presidente do grupo Carrefour, Alexandre Bompard, em suas redes sociais deu início a uma grande polêmica no Brasil. No texto, ele afirmou que a rede varejista se comprometia, a partir daquela data, a não vender mais c

Redação, O Estado de S. Paulo (via Agência Estado)

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Escrito por Redação, O Estado de S. Paulo (via Agência Estado)
Publicado em 22.11.2024, 20:53:00 Editado em 22.11.2024, 21:00:12
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Na quarta-feira, 20, um comunicado do presidente do grupo Carrefour, Alexandre Bompard, em suas redes sociais deu início a uma grande polêmica no Brasil. No texto, ele afirmou que a rede varejista se comprometia, a partir daquela data, a não vender mais carnes provenientes do Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai - independentemente dos "preços e quantidades de carne" que esses países possam oferecer. Segundo Bompard, a decisão foi tomada após ouvir o "desânimo e a raiva" dos agricultores franceses, que têm protestado contra a proposta de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

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Nesta sexta, 22, em novo lance, um outro grande varejista francês, o Les Mousquetaires, foi na mesma direção. Também em publicação nas redes sociais, Thierry Cotillard, CEO do grupo (que detém as marcas Intermarché e Netto, e é um dos maiores distribuidores varejistas na Europa) anunciou veto ao produto e pediu uma mobilização coletiva nesse sentido. "Faço um apelo às indústrias para que demonstrem o mesmo nível de comprometimento e transparência quanto à origem da matéria-prima utilizada", escreveu ele.

Segundo dados do site especializado Farmnews, a França comprou de janeiro a outubro deste ano menos de 40 toneladas de carne bovina in natura do Brasil - o equivalente a 0,002% do total embarcado pelo País no período, de 1,41 milhão de toneladas. O receio do agro brasileiro, porém, é de que a iniciativa de grupos como o Carrefour e o Les Mouquestaires possa ter um efeito grande na imagem do produto, abrindo caminho para atitudes parecidas em outros países europeus e prejudicando os produtores daqui.

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O movimento dos grupos varejistas e dos agricultores franceses tem como pano de fundo as discussões sobre o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Nas negociações desse acordo, que já duram vários anos, a questão agrícola sempre foi um ponto de confronto importante.

Os agricultores europeus têm pedido algum tipo de proteção contra os produtos do Mercosul. Mas, agora, com o avanço das conversas e a possibilidade real de o acordo ser assinado, as manifestações se tornaram mais veementes. No último dia 13, o primeiro-ministro francês, Michel Barnier, afirmou que a França não aceitará a assinatura do acordo se o texto atual não for mudado.

O movimento francês provocou reações do lado brasileiro. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, falou em "ação orquestrada". Na Câmara, já existe uma articulação para instalar uma comissão com o objetivo de "colocar o dedo na ferida" do Carrefour, enquanto o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), defendeu um boicote ao Carrefour e ao Atacadão, também controlado pelo grupo francês.

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Questão ambiental

O argumento central da nova investida de produtores franceses - e, agora, também de varejistas locais - contra um possível acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia é ambiental: eles alegam que os produtores brasileiros não respeitariam as mesmas regras impostas a eles.

"A Europa não deve se converter em um filtro e não pode importar produtos que não respeitam nenhuma de nossas normas (ambientais)", disse à rádio France International o presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA), Arnaud Rousseau, que desde a segunda-feira passada tem liderado uma série de protestos, como o bloqueiro de rodovias no país.

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"Parece que estão querendo arrumar pretexto para que a França não assine (o acordo de livre-comércio) e continue com posição contra a finalização do acordo Mercosul-União Europeia", reagiu o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para quem o movimento parece uma "ação orquestrada". Em sua visão, seria mais "bonito e legítimo" só manter a posição contra o acordo.

"Não precisava ficar procurando pretexto naquilo que não existe na produção sustentável e exemplar brasileira", completou. Em nota oficial, o ministério disse que "não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros".

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Câmara

O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), prometeu apresentar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um requerimento para instalar uma comissão externa da Casa com o objetivo de "colocar o dedo na ferida" do Carrefour - o primeiro a anunciar o embargo à carne proveniente do Mercosul.

Na justificativa para criar a comissão, Moreira diz que é preciso avaliar a conduta e as denúncias contra o Carrefour no Brasil. O deputado afirma que há antecedentes "graves" da rede de supermercados francesa no País ligados a violações ambientais e trabalhistas. "É uma atitude absolutamente irresponsável, falaciosa e discriminatória, em uma clara afronta protecionista ao setor agropecuário brasileiro", disse Moreira.

Em nota distribuída na quinta-feira, 21, a Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm), composta por entidades representativas do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai, disse manifestar "veemente discordância e repúdio à decisão anunciada" pelo CEO do Carrefour, Alexandre Bompard. "Essa atitude, arbitrária, protecionista e equivocada, prejudica o bloco e ignora os padrões de sustentabilidade, qualidade e conformidade que caracterizam a produção agropecuária nos seus países membros", diz o texto.

Com a repercussão do caso, o Carrefour chegou a divulgar nota dizendo que a medida só vale para as unidades da rede na França e que "em nenhum momento" foi colocada em dúvida a "qualidade do produto do Mercosul" - se refere "somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise".

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