Após trocas de sinais e oscilações contidas ao longo da tarde, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 26, em alta de 0,04%, cotado a R$ 5,8081, com máxima a R$ 5,8285. O real apresentou hoje o melhor desempenho entre seus principais pares emergentes, em especial na comparação com o peso mexicano, que perdeu quase 2%. A leitura acima das expectativas do IPCA-15 aumentou as apostas em aceleração do ritmo de alta da taxa Selic, mas não teve impacto relevante na formação da taxa de câmbio.
Segundo analistas, a moeda brasileira teria sido em parte isolada do movimento de apreciação do dólar no exterior em razão da iminência do anúncio do pacote de corte de gastos do governo Lula. Com a taxa de câmbio já acima de R$ 5,80, haveria pouco apetite para apostas em nova rodada de depreciação do real mesmo com ambiente externo desfavorável a emergentes. Além disso, o Brasil não é, por ora, alvo das medidas protecionistas prometidas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump.
Lá fora, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas - voltou a superar a linha dos 107,000 pontos, com máxima aos 107,504 pontos. Ontem, o Dollar Index havia recuado com a indicação do gestor Scott Bessent para a secretaria do Tesouro dos Estados Unidos, o que amenizou temores de aceleração do déficit fiscal.
Hoje a moeda americana ganhou terreno com a promessa de Trump de impor em janeiro tarifas adicionais a importações de China, México e Canadá. Divulgada à tarde, a ata do Federal Reserve não provocou mudanças relevantes nos preços dos ativos. Embora siga majoritária a aposta em corte de juros nos EUA em dezembro, analistas avaliam que a agenda de Trump, tida como inflacionária, tende a limitar o espaço para afrouxamento monetário em 2025.
O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, destaca o bom desempenho do real na comparação com outras divisas emergentes, em especial o peso mexicano, abalado pelas declarações de Trump, que aguçam os temores de aumento de protecionismo e guerra comercial.
"O dólar aqui poderia estar acompanhando mais de perto a dinâmica global, mas a expectativa pelo pacote, que está na iminência de ser divulgado, parece evitar a deterioração do real. Os outros ativos domésticos também se comportam bem. A bolsa sobe e os juros futuros perto do zero a zero", afirma Costa.
Ontem à noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para bater o martelo sobre as medidas de contenção de despesas havia sido definitiva. Ele observou que, antes do anúncio, era necessário apresentar a proposta aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Lira disse hoje à tarde que ainda não foi chamado para discutir o plano, mas ressaltou que as medidas "tem que ser aprovadas" neste ano.
Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, o pacote deve trazer mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), no salário mínimo e no abono salarial, além das já ventiladas alterações na previdência dos militares. Não haveria alterações nos pisos de saúde e educação, mas estaria em questão mudança no porcentual das parcelas de recursos do Fundeb, fundo voltado à educação básica. O Broadcast apurou hoje à tarde que o governo avalia veicular pronunciamento de Haddad em rede nacional de televisão para explicar as medidas.
Para Costa, da Monte Bravo, uma parte do impacto positivo do pacote, se confirmado o desenho e o volume de cortes ventilado (R$ 70 bilhões), já estaria incorporado em grande parte nos preços dos ativos, incluindo a taxa de câmbio.
"Podemos ter uma melhora marginal, com o real se apreciando 2% ou 3%. Os adiamentos seguidos tiraram um pouco da potência do anúncio. O mercado já sabe na prática quais são as medidas", afirma Costa, ressaltando que houve também uma mudança no ambiente global que limita o espaço para queda do dólar no mercado doméstico.
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