Os juros futuros tomaram caminhos distintos nesta sexta-feira, 27, dia marcado por liquidez reduzida. As taxas curtas experimentaram pequeno alívio, após resultado abaixo do esperado do IPCA-15 de dezembro, embora a abertura do índice desautorize apostas em arrefecimento significativo da inflação daqui para frente.
Já os juros intermediários e longos voltaram a subir com força, ainda refletindo um ambiente político conturbado, com a queda de braço entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso em torno das emendas parlamentares. A alta do dólar, na ausência de intervenções do Banco Central, e do retorno dos Treasuries de 10 e 30 anos também contribuíram para o aumento dos prêmios.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 15,435%, de 15,37% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 15,637% para 15,855%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 15,625%, de 15,274%.
O IPCA-15 desacelerou de 0,62% em novembro para 0,34% em dezembro, leitura abaixo da mediana de Projeções Broadcast (0,45%). Analistas ouvidos pelo Broadcast ponderaram que o comportamento benigno do índice cheio esconde um quadro qualitativo ainda ruim, com núcleos e serviços ainda em níveis elevados.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, diz que a composição do IPCA-15 não foi positiva, uma vez que a desaceleração do índice ocorreu por resultado mais baixo de passagens aéreas e preços administrados. "Em contrapartida, tanto os serviços subjacentes quanto os bens industriais apresentaram piora na margem, indicando pressão inflacionária prospectiva", afirma Damico.
Investidores também absorveram dados do IGP-M. O índice desacelerou de 1,30% em novembro para 0,94% em dezembro, ficando abaixo da mediana das estimativas (1,07%) e dentro do intervalo previsto pelo Projeções Broadcast (0,81% a 1,15%). Com o resultado, o indicador encerrou 2024 com alta de 6,54%.
"Embora o IPCA-15 tenha vindo abaixo do consenso, a qualidade da inflação está muito ruim, com as medidas subjacentes já muito contaminadas. O IGP-M sem muito refresco também mostra que tem muita inflação para chegar no varejo ainda", afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, acrescentando que, a despeito do qualitativo ruim do IPCA-15, a leitura cheia abriu espaço para um ajuste na ponta curta de juros.
Dados de emprego não tiveram impacto relevante na formação das taxas. A avaliação geral é a de que o mercado de trabalho continua forte e corrobora o quadro de crescimento acima do potencial que respalda um aperto monetário mais intenso.
A Pnad Contínua mostrou que a taxa de desocupação no Brasil ficou em 6,1% no trimestre encerrado em novembro, em linha com as expectativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast. Já o Caged trouxe geração de 106.625 carteiras assinadas em novembro, perto do piso das de Projeções Broadcast, que iam de 105 mil a 150 mil vagas, com mediana de 125 mil vagas.
"Os dados do mercado de trabalho mostraram resultados mistos, ainda que continuem indicando aquecimento. A taxa de desemprego atingiu o menor nível da série histórica", afirma Damico, da Armor.
Além da agenda carregada, investidores monitoraram a chamada crise das emendas parlamentares deflagrada após o ministro Flávio Dino, do STF, suspender o pagamento de R$ 4,2 bilhões. A previsão era de liberação desses recursos até o fim do ano. Há receio de que o imbróglio prejudique a apreciação do Orçamento de 2025, na volta do recesso parlamentar, e mine a capacidade do governo de dar andamento à sua agenda no Congresso.
Como prometido ontem à noite, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), enviou hoje pela manhã documento ao STF defendendo a lisura e legalidade na distribuição das emendas. Dino disse que a Câmara deixou de fornecer "informações imprescindíveis" sobre as emendas bloqueadas e pediu novos esclarecimentos para viabilizar o pagamento dos recursos, com prazo final às 20h desta sexta-feira.
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