A queda no custo da energia elétrica e uma nova rodada de reduções nos preços dos alimentos fizeram o Brasil registrar deflação de 0,02% em agosto, depois de uma alta de 0,38% no mês anterior. Foi o primeiro resultado negativo no ano e o mais baixo desde junho de 2023 (-0,08%), segundo os dados divulgados na terça-feira pelo IBGE. A taxa acumulada em 12 meses, que havia chegado a 4,5% até julho, recuou para 4,24% agora - ante uma meta de 3%, com tolerância até 4,5%.
Esse recuo em agosto não alterou, porém, o cenário projetado até aqui pelos economistas para a inflação nos próximos meses, nem mexeu com a previsão de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar, já neste mês, a retomada de alta da taxa básica de juros.
A avaliação que ainda prevalece no mercado é de quatro aumentos consecutivos da Selic em 0,25 ponto porcentual até janeiro de 2025 - o que levaria a taxa dos atuais 10,5% para 11,5%. O Copom volta a se reunir na próxima semana.
"Esse alívio que tivemos hoje (ontem) não é suficiente para criar algum tipo de mudança de aposta em relação ao aperto monetário", afirmou o economista João Savignon, da gestora Kínitro Capital. "Isso acaba consolidando, na verdade, o movimento de uma alta de 0,25 ponto."
O mesmo cenário foi endossado por casas como a XP, enquanto o Bradesco ressaltou em relatório que o resultado de agosto foi pontual.
Já o economista Leonardo Costa, da ASA Investments, fala em viés de alta para a inflação até dezembro. "Estamos em processo de revisão, e a alta para o ano deve ficar entre 4,5% e 4,6%."
A leitura do IPCA em agosto foi puxada, principalmente, por energia elétrica e alimentos. No primeiro caso, a queda apurada pelos técnicos do IBGE chegou a 2,77%, com a volta no mês da chamada bandeira tarifária verde - que não impõe nenhum reajuste extra às contas de energia elétrica.
Por sua vez, o grupo Alimentação e Bebidas - que já havia recuado 1% em julho - caiu no mês passado mais 0,44%. Entre os alimentos que registraram as maiores deflações, estão batata-inglesa (-19,04%), tomate (-16,89%) e cebola (-16,85%).
Sem chuvas
Os economistas chamam a atenção para o fato de que, agora em setembro, esses dois grupos de preços devem registrar outro comportamento, como reflexo da falta de chuvas e das queimadas que se espalharam pelo País. Isso já levou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a anunciar a retomada da bandeira vermelha 1 em setembro, o que vai corresponder a um custo extra de R$ 4,46 a cada 100 quilowatt-hora.
Para especialistas no setor, sem chuvas a tarifa adicional na conta de luz pode ir até o fim do ano. No caso dos alimentos, o temor é de quebra de produção e encarecimento de preços.
"Existe uma diferença entre o que achamos que o BC deveria fazer e o que ele vai fazer. Na nossa visão, haveria espaço para aguardar, com a Selic em 10,5%, mas a desancoragem e a pressão do mercado vão pesar mais", afirmou o economista sênior do Banco Inter, André Valério, referindo-se à diferença entre as projeções do mercado e as do governo para a inflação. "Teria de vir uma queda (no IPCA) muito mais intensa para mudar isso."
Quanto aos custos dos transportes, a gasolina ficou 0,67% mais cara, item de maior pressão individual sobre o IPCA no mês. Porém, essa alta foi compensada por uma queda de 4,93% nos preços das passagens aéreas.
"Houve quedas de passagens aéreas e de outros serviços de características turísticas, tradicionalmente mais demandados em meses de férias", afirmou André Almeida, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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