Após pedir ao governo o retorno imediato da alíquota máxima do imposto de importação sobre carros híbridos e elétricos, a direção da Anfavea, entidade que representa as montadoras, apontou o risco de fechamento de fábricas já no segundo semestre se o Brasil não subir a barreira contra o avanço, descrito como desenfreado, das importações.
Ao fazer uma comparação com o imposto de importação em outros grandes mercados do mundo, incluindo Canadá e Estados Unidos, onde as alíquotas passam de 100%, e a União Europeia, onde variam de 27% a 48%, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, salientou que o Brasil é o único que hoje cobra 18% na entrada de carros elétricos. Mesmo quando o imposto de importação subir para 35%, projetou, a alíquota no Brasil continuará sendo menor do que a cobrada em outros países.
Conforme o executivo, a invasão de carros elétricos da China em todo o mundo gera um desequilíbrio que atinge empregos, investimentos e produção. "No momento de transição, se o Brasil não rever isso imediatamente, corremos o risco de impacto com fechamento de fábricas no segundo semestre", frisou Leite, ao lembrar que a produção das montadoras brasileiras está estagnada, mesmo com o crescimento de 14,6% das compras de veículos no Brasil durante o primeiro semestre.
Na quarta-feira da semana passada, a Anfavea levou ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), um pedido para antecipar em dois anos a cobrança da alíquota de 35% do imposto de importação sobre carros híbridos e elétricos.
O imposto sobre as importações de eletrificados voltou a ser gradualmente cobrado em janeiro, com alíquotas que variam a depender da tecnologia. A previsão é que elas convirjam para 35% em julho de 2026. As montadoras querem, contudo, a volta urgente da alíquota máxima.
Nesta quinta-feira, na apresentação dos resultados do setor no mês passado, a direção da Anfavea voltou a apresentar dados sobre a perda de espaço para concorrentes de fora do Mercosul não apenas no mercado doméstico, mas também em alguns dos principais destinos dos carros brasileiros no exterior. Entre eles, as montadoras do Brasil perderam participação para a China nas importações do México, Chile e Uruguai. Para piorar, houve queda de 19% nos mercados do Mercosul.
O presidente da Anfavea classificou como "desastrosa" a combinação de queda das exportações com avanço das importações ao explicar por que a entidade pediu o retorno total, desde já, do imposto de importação sobre os carros eletrificados. A expectativa da associação é que as compras de automóveis híbridos e elétricos, que vêm em boa parte da China, fiquem entre 130 mil e 150 mil unidades neste ano. Em 2023, somaram 93,9 mil.
Leite pontuou que, pelo menos desde 2010, é a primeira vez que as exportações das montadoras, de 165,3 mil veículos no primeiro semestre, ficam abaixo das importações no País, que beiraram as 200 mil unidades no mesmo período, mordendo 17,3% do mercado. "Hoje temos déficit comercial."
O executivo defendeu uma agenda de harmonização de regras com mercados externos, diminuição do custo de produção e novos acordos comerciais para o Brasil reverter a tendência na balança comercial de veículos. Para viabilizar os investimentos anunciados pelas montadoras, previstos em R$ 130 bilhões nos próximos anos, Leite ressaltou que voltar a exportar é fundamental.
Se as exportações e as importações tivessem mantido os níveis do ano passado, a Anfavea calcula que a produção, que teve um aumento de apenas 0,5% no primeiro semestre, estaria crescendo 11%. "Seriam 200 mil unidades a mais. Isso é uma fábrica", lamentou Leite.
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