ESTELITA HASS CARAZZAI
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Numa medida de repercussões globais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta (8) o ato que estabelece tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados ao país, um dos maiores compradores mundiais desses insumos.
O Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA, não foi poupado e estará sujeito à sobretaxa o que deve desequilibrar a indústria siderúrgica nacional, que emprega cerca de 100 mil pessoas.
Mas Trump deixou aberta a possibilidade de modificar ou remover as tarifas a determinados países, desde que não haja ameaça à segurança nacional dos EUA, usada como justificativa para a medida. Vamos ver quem nos trata com justiça e quem não, afirmou o presidente.
As sobretaxas passarão a valer em 15 dias. Por ora, apenas os vizinhos México e Canadá foram excluídos da medida, e assim permanecerão, a depender de como forem as renegociações do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte). Mas as conversas com outros países estão abertas. Teremos grande flexibilidade e cooperação com aqueles que são realmente nossos amigos, tanto em questões militares quanto no comércio, afirmou Trump.
A medida tem o potencial de gerar uma guerra comercial global: a União Europeia já ameaçou retaliar produtos americanos, como calças jeans Levis, uísque do tipo Bourbon, cranberries e até pasta de amendoim.
Já o Brasil, que não exclui a possibilidade de levar a questão à OMC (Organização Mundial do Comércio), deve continuar a negociar com o governo americano. Tem espaço, sim [para negociar], afirmou o embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral. Temos contato com a bancada do aço no Congresso, com as indústrias americanas. Tem bastante coisa.
A medida preocupa a indústria brasileira. No ano passado, o país exportou US$ 2,6 bilhões (cerca de R$ 8,5 bilhões) em aço aos Estados Unidos, principal comprador do produto brasileiro. É uma alíquota extremamente alta e, com certeza, irá inviabilizar nossas exportações para lá afirmou na semana passada o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, à reportagem. Os EUA respondem por um terço das exportações brasileiras de aço.
O ministério da Indústria e Comércio Exterior argumenta que o produto brasileiro não concorre com o americano, que compra produtos semiacabados de aço. Além disso, o Brasil também é o principal comprador de carvão dos EUA uma indústria igualmente cara a Trump, que prometeu revitalizar o setor e gerar empregos para seus trabalhadores, que votaram em peso no republicano.
O carvão americano é especialmente usado na indústria siderúrgica do Brasil. Se sua produção for afetada pelas sobretaxas, as importações do produto, consequentemente, irão diminuir. Vai ser um tiro no pé, afirmou Mello Lopes à reportagem.
JUSTIFICATIVA
Trump assinou as tarifas com base numa lei do tempo da Guerra Fria, de 1962, que dá a ele a prerrogativa de estabelecer proteções comerciais com base na segurança nacional. Normalmente, a definição da política comercial cabe ao Congresso.
Um relatório do Departamento de Comércio americano, produzido a pedido da Casa Branca, concluiu que a importação de aço e alumínio reduziu a capacidade siderúrgica nacional e, por isso, ameaça a indústria de defesa dos EUA. O aço e o alumínio são a espinha dorsal da nação, declarou Trump nesta quinta.
Mas o mandatário deixou claro que sua preocupação também é com os déficits comerciais do país uma espécie de obsessão do republicano, aos quais atribui a perda de empregos na indústria, e reclamou que os EUA não têm sido tratados com justiça por outros países. Defesa e comércio andam lado a lado, disse o presidente.
Eleito com a promessa de colocar a América em primeiro lugar, Trump tem intensificado as políticas protecionistas dos EUA. Uma de suas primeiras medidas foi retirar o país da Parceria Transpacífico, considerado o maior acordo comercial da história. Mais recentemente, ele impôs tarifas sobre máquinas de lavar e painéis solares da China, aumentou o número de investigações por dumping e está renegociando outros acordos comerciais, sempre sob o argumento de proteger o emprego dos americanos.
CONSEQUÊNCIAS
Desde que Trump anunciou as tarifas, na semana passada, países de todo o mundo ameaçaram retaliar os EUA, e até mesmo políticos do Partido Republicano e indústrias americanas tentaram dobrar o presidente.
Os EUA não produzem aço e alumínio suficientes para dar conta da demanda interna. Os setores de construção, metalurgia, automotivo e petrolífero reclamaram efusivamente da medida, e devem ver os custos de produção aumentar.
Há a expectativa de que preços subam, outros setores econômicos sejam retaliados e haja a perda de quase 180 mil vagas de trabalho pelo país, segundo estudo da consultoria The Trade Partnership. Mas Trump não quis voltar atrás.
A imposição de tarifas enfrentava oposição dentro da própria Casa Branca. Nesta semana, o presidente perdeu um de seus principais assessores econômicos, Gary Cohn, ex-executivo do banco Goldman Sachs. Ele anunciou sua saída poucos dias depois da decisão sobre as taxas, às quais era contrário. Ele é um globalista, mas eu ainda gosto dele, brincou Trump nesta quinta.
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