MARIANA CARNEIRO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Brasil vive os últimos anos de uma vantagem populacional que se esgotará, segundo projeção do Banco Mundial, em aproximadamente três anos, em 2020.
No futuro, não muito distante, a população em idade ativa (entre 15 e 64 anos) parará de crescer e, a partir daí, o número de idosos e crianças passará a subir. O perfil demográfico do Brasil em breve começará a assemelhar-se ao de muitos países europeus, embora o país se encontre em nível muito inferior de desenvolvimento econômico.
A chamada taxa de dependência (proporção de crianças até 14 anos e idosos acima de 65 anos na população) parará de cair em 2020, ficando estável em 47% até 2024, quando passa a subir.
Em 2030, as pessoas fora da idade habitual para trabalhar (crianças e idosos) serão mais numerosas do que os potenciais trabalhadores. No jargão técnico, o bônus produzido pela demografia favorável, com uma crescente população trabalhadora, ficará para trás.
A projeção é parte do relatório Competências e empregos: uma agenda para a juventude, que o Banco Mundial apresenta nesta quarta-feira (7) em Brasília.
DESAFIOS
A previsão é alarmante porque o crescimento do Brasil, nas últimas duas décadas, se deu basicamente pela inserção de mais pessoas no mercado de trabalho. E quase nada sobre ganhos de eficiência (ou de produtividade) nas funções que estão desempenhando e na produção das empresas.
A produtividade do trabalho, segundo o Banco Mundial, respondeu só por 39% do aumento da renda per capita entre 1996 e 2014. O restante decorreu de mudanças demográficas e do aumento da taxa de participação na força de trabalho, afirma o relatório. À medida que a contribuição do crescimento da força de trabalho como parcela da população diminui, o Brasil precisa aumentar a produtividade do trabalho para manter, ou quiçá aumentar, a taxa de crescimento do PIB per capita.
CRESCIMENTO
Segundo cálculos do Banco Mundial, o Brasil poderia crescer cerca de 4,5% ao ano de maneira sustentável se aumentasse a taxa de crescimento da produtividade para o nível anterior a essa baixa dos últimos 20 anos. Caso não consiga gerar mais eficiência, o potencial de expansão do PIB e da renda da população fica limitado.
O cenário é desafiador e, por isso, o banco sugeriu ao país focar sua estratégia na juventude. Afinal, os entrantes do mercado de trabalho terão que ser mais produtivos, uma vez que serão menos numerosos no futuro.
O retrato, porém, dessa população é desalentador. Mais da metade (52%) dos jovens com idade entre 15 e 29 anos sofre com o que o banco classificou de desengajamento.
São jovens nem-nem (não estudam, nem trabalham), estão muito atrasados nos estudos, ou quando optam por um emprego, acabam em funções informais ou de baixa remuneração. Dessa maneira, estão sendo sentenciados à baixa produtividade.
Segundo Rita Almeida, economista do Banco Mundial, melhorar a qualidade da educação é a chave para melhorar o engajamento desses jovens ao estudo e ao aperfeiçoamento técnico para o trabalho.
O relatório do Banco Mundial mostra que os prêmios salariais por maior educação estão caindo. Ou seja, estudar mais não está garantindo vantagens salariais tão relevantes quanto já foram no passado. A escolaridade não está relacionada com produtividade no Brasil, disse Almeida.
O resultado do baixo estímulo ao estudo são números muito negativos para o Brasil, se comparados internacionalmente. Segundo o Banco Mundial, quatro em cada dez pessoas no país com mais de 25 anos concluíram o ensino médio.
Nos países que compõem a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a média é de seis em cada dez pessoas. Dessa maneira, o país não tem força adequada para alcançar a renda alta, disse.
REFORMA
O Banco Mundial faz uma série de sugestões para combater a evasão escolar na juventude, como programas que visam reduzir casos de gravidez na adolescência até políticas de transferência de renda que motivem a permanência do aluno na escola.
Aos 19 anos, cerca de um terço dos jovens já deixaram a escola, segundo o banco. Existem programas para reduzir a evasão, que funcionam e que estão sendo adotados em outros países. Podem servir de experiência para o Brasil, afirmou.
A reforma do currículo do ensino médio, feita pelo governo Michel Temer no ano passado, tem elementos positivos, disse Almeida, como a redução de matérias e o investimento em competências sócio-emocionais. Mas nossa leitura é que reforma não é suficiente", afirmou. "A implementação da política de educação cabe aos estados e municípios. É preciso cuidar muito da implementação, acompanhar e manter o foco, afirmou.
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