ROBERTO DIAS, ENVIADO ESPECIAL
BARCELONA, ESPANHA (FOLHAPRESS) - É inegável o sentido de urgência em qualquer debate relacionado à chamada Quarta Revolução Industrial, mas as discussões eclipsam um fato: a tecnologia que vai acelerá-la ainda não chegou ao mercado. Trata-se do 5G, capaz de conectar internet ultrarrápida a todo tipo de coisa.
Ainda que demonstrações pontuais tenham sido feitas -a mais recente na Olimpíada de Inverno, neste mês-, a previsão é que o processo comercial comece apenas no ano que vem. A definição técnica do padrão aconteceu apenas recentemente.
Além disso, a própria GSMA, a entidade que congrega as teles, prevê que a expansão será mais lenta que a do 4G, a tecnologia mais avançada hoje, por falta de investimentos em rede e incertezas operacionais em vários países.
Tema do Fórum Mundial de Davos há dois anos, a Quarta Revolução Industrial tem protagonizado discussões no Mobile World Congress, principal feira do setor de telecomunicações, que ocorre nesta semana em Barcelona.
No evento, a melhor síntese sobre a revolução talvez tenha sido feita por Sue Siegel, principal executiva de inovação da GE. Ela elencou três pontos:
1 - a economia passa de um modelo centralizado para um distribuído. "Você recebia energia elétrica de uma central; agora pode instalar um painel solar."
2 - investimento (o capex, no jargão administrativo) perde força em relação a gasto operacional (o chamado opex). "Um exemplo é a Uber. Você compra a viagem, não o carro."
3 - aparelhos estáticos dão lugar aos conectados. "É dado sobre dado, para todo lado."
A primeira Revolução Industrial começou no século 18, impulsionada pela máquina a vapor. A segunda, na virada do século 19 para o 20, teve como símbolos a eletricidade e o telefone. A terceira, a partir do final do século 20, gravitou em torno do computador pessoal e da internet.
O ciclo que está a ponto de começar deverá se basear em inteligência artificial, internet das coisas, robôs, drones e sensores.
"Uma questão-chave da Quarta Revolução é que ela acontece enquanto todas essas tecnologias estão surgindo e colidindo entre elas", afirma Mohamed Kande, vice-presidente da PwC.
Uma das consequências esperadas é que fiquem ainda mais borradas as fronteiras entre as indústrias -como as antes demarcadas entre empresas de tecnologia e as de mídia ou bancária.
De modo a demonstrar esse sentido de urgência dos novos tempos, o Mobile World Congress deste ano elencou como principal nome de sua programação o piloto Fernando Alonso, bicampeão da F-1, justamente num debate sobre a Quarta Revolução, nesta terça (27).
Laboratórios históricos de tecnologias que acabam chegando ao dia a dia, os carros de F-1 conhecem há tempos um elemento que passará a ser central para a indústria: a comunicação maciça de dados da máquina para uma central distante.
"Alonso vive no 5G há 17 anos", brincou Zak Brown, diretor-executivo do Grupo McLaren, numa referência ao tempo de carreira do piloto na F-1.
Mas também aí está um exemplo de como no mundo real a coisa ainda não vai tão engrenada assim.
A conexão firme de veículos a outros aparelhos ainda está no estágio de ser exemplo de estande de feiras, como demonstra o caso levantado por Chuck Myers, CEO da Airgain, empresa especializada no assunto.
"Vi aqui em Barcelona demonstrações de carro que vai a uma garagem, troca de redes e a conectividade não muda", explicou.
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