SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Quando Mauricio Macri chegou à Presidência da Argentina, em 2015, queria fazer um gesto de reconciliação e usar, em seu desfile após tomar posse, pelas ruas de Buenos Aires, o cadillac conversível comprado pelo ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974) ícone máximo da oposição.
Não deu certo, o automóvel, guardado numa das garagens da residência oficial, em Olivos, estava em péssimo estado e não saia do lugar. Ainda assim, Macri pediu que fosse restaurado para ser colocado em exibição.
O cadillac foi produzido pela General Motors e, nos anos 1950, era considerado um carro de luxo. A triste ironia é que, entre o dia em que Perón o encomendou, em 1955, e aquele em que desembarcou na Argentina, no ano seguinte, o general já havia sido derrubado do poder por um golpe militar, a chamada Revolução Libertadora, que obrigou Perón a exilar-se por 17 anos (ele voltaria à Presidência depois, em 1973, até sua morte).
Neste período, então, o carro foi usado em desfiles pelos generais do regime militar (1955-1958), e pelos presidentes Arturo Frondizi (1958-1962), Arturo Illia (1963-1966) e Raúl Alfonsín (1983-1989). Também foi emprestado ao venezuelano Hugo Chávez em uma visita que fez ao país, e usado em filmes de época, entre eles um sobre Eva Perón, mulher do general.
Perón mesmo, ao voltar ao cargo, em 1973, nunca usou o cadillac, preferindo usar carros mais modernos e nos quais ele não ficasse muito exposto, com receio de sofrer um novo golpe.
Na última terça-feira (30), o cadillac de Perón, agora restaurado por 30 técnicos da Comissão de Amigos do Museu do Automóvel, foi exibido em sua nova casa, o Museu da Casa Rosada, onde pode ser visitado pelo público.
O secretário geral da Presidência, Fernando de Andreis, que comandou a cerimônia, disse que a decisão de restaurar o automóvel ia além de preferências partidárias, "ele pertence um pouco a cada argentino, aos de antes, aos de hoje, a todos os que virão". Não deixou, porém, de fazer uma crítica à gestão peronista de Cristina Kirchner (2007-2015). "Quando nós o encontramos, estava em péssimo estado, um exemplo do descuido com que o patrimônio histórico do país vinha sendo tratado até que assumimos o governo."
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