SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O jornal britânico "Financial Times" viu com bons olhos as iniciativas do governo brasileiro para destravar concessões e obras, mas considerou os investimentos em infraestrutura no país ainda muito aquém se comparado a outros países emergentes.
O atual governo do presidente Michel Temer é "mais favorável às empresas", o que tem levado o Brasil a adotar "um abordagem mais pragmática" para atrair negócios, com taxas de retorno "em níveis mais realistas", avaliou o jornal em uma série de reportagens sobre o tema.
"Em março, quatro aeroportos foram privatizados com sucesso em uma operação que surpreendeu muitos céticos", disse.
Na terça-feira (19), o governo publicou medida provisória que beneficia as concessionárias de rodovias com prazos maiores para obras, o que deve destravar não apenas os investimentos no setor, mas também abrir espaço para as negociações de ativos.
Em agosto, o conselho do PPI (Programa de Parcerias em Investimentos) aprovou a venda de estatais e de projetos controlados pela União, como a Eletrobras, a Casa da Moeda e o aeroporto de Congonhas.
Com o governo Temer procurando parcerias com a iniciativa privada e as grandes construtoras nacionais ainda afetadas pelo escândalo da Petrobras, novos participantes, empresas menores e investidores estão identificando potencial nos projetos no país, avaliou o jornal.
No entanto, ressalta o "FT", com muitas empresas brasileiras impedidas de participar de negócios por suspeitas de corrupção, o Brasil ainda dependerá muito do capital estrangeiro.
"O governo terá conforto com a resiliência dos fluxos de investimento estrangeiro direto, mas para os projetos de maior risco, de transporte e de energia envolvendo muito dinheiro, pode ser mais difícil atrair interessados."
Além disso, diz que as acusações sobre Temer "comprometeram uma agenda de reformas que começaram a puxar a economia de volta."
O jornal pondera que o presidente "parece ter sobrevivido às acusações de corrupção", mas que há "incerteza considerável" sobre o resultado das eleições presidenciais do próximo ano. "Alguns investidores temem que o Brasil possa se radicalizar à esquerda ou à direita."
"Ninguém tem pista de quem possa ganhar as eleições presidenciais de outubro de 2018 e pastorear o país para a recuperação... Nenhuma dessas incertezas é boa para o investimento em infraestrutura, que é inerentemente de longo prazo."
O "FT" cita entrevista de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, à Folha de S.Paulo, em que Fraga diz que "se a mudança imprimida na direção da política econômica for mantida, consolida uma coisa muito boa." "Mas pode acontecer o contrário, uma guinada populista, e ir tudo para o brejo", completou.
BUROCRACIA
O jornal afirmou também que a infraestrutura do Brasil continua a ser "muito inferior à de qualquer um dos países com que ele concorre nos principais mercados de exportação."
Enquanto a burocracia para expansão de rodovias leva à inação brasileira, a China "anda ocupada", compara o "FT". "Foram abertos milhares de quilômetros de novas linhas de alta velocidade desde 2007 e modernos trilhos de trem bala que ligam até cidades remotas a Shanghai e Pequim."
O jornal diz que políticos -"estejam eles mais à esquerda, como a ex-presidente Dilma Rousseff, ou à direita, como seu sucessor, Michel Temer"- sabem que o país precisa melhorar em transporte e outras infraestruturas.
"Há um consenso crescente também de que comprometer capital nesses grandes projetos pode reduzir a dependência da economia brasileira do consumo, característica tão forte de seu desenvolvimento nos últimos dez anos."
O problema, segundo o jornal, é que, "por todos os tipos de razões", o Brasil -ao contrário da China e de muitos outros países emergentes- foi ineficaz ao colocar esses planos em prática.
Alguns avanços foram feitos no âmbito do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), diz o "FT", antes de as grandes construtoras brasileiras serem implicadas na Operação Lava Jato, como em transmissão de eletricidade, construção de estradas, modernização de aeroportos e construção de moradias do Minha Casa, Minha Vida.
Mas muitos projetos ficaram atolados na burocracia do país, onde obter financiamento tem sido difícil e a "legislação trabalhista restritiva" ajuda a retardar o processo, afirma o jornal.
Deixe seu comentário sobre: "Brasil mostra 'abordagem pragmática' em infraestrutura, mas há incertezas, diz jornal"