ÉRICA FRAGA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Contratos bem feitos diminuem custos, reduzem riscos, aumentam lucros e contribuem para um melhor funcionamento da economia.
Nada disso, que hoje pode soar como obviedade, era muito claro quando o finlandês Bengt Holmström, 67, e o britânico Oliver Hart, 68, começaram a pesquisar o tema nas décadas de 1970 e 1980.
Por mostrar os problemas provocados por falhas contratuais e indicar diversas formas de resolvê-las -como a adoção de incentivos apropriados-, os dois acadêmicos receberam nesta segunda-feira (10) o Prêmio Nobel de Economia de 2016.
Ao anunciar a premiação, a Academia Real Sueca de Ciências, em Estocolmo, destacou que "economias modernas são ligadas por inúmeros contratos" e que os trabalhos de Hart e Holmström "criaram uma base intelectual para o desenho de políticas e instituições em muitas áreas, da legislação de falência a constituições políticas".
O britânico Hart, da Universidade Harvard, é reconhecido por mostrar que nem sempre é possível registrar e prever no papel todas as informações e todos os desdobramentos possíveis de uma relação entre duas ou mais partes. Isso leva às chamadas falhas contratuais.
"Hart mostrou que, na vida real, os contratos são incompletos e que isso vai gerar disputas", disse o acadêmico Sérgio Lazzarini, do Insper.
A pesquisa do economista britânico mostrou a importância de especificar, por exemplo, quem, em uma relação regida por contrato, tem o direito de tomar decisões em determinadas circunstâncias não antecipadas originalmente ou como eventuais problemas devem ser arbitrados.
Os estudos de Hart contribuíram para discussões de temas variados, como que tipos de empresas devem se fundir e a conveniência de se ter escolas e prisões controladas ou não pelo capital privado.
"A pesquisa dele ajudou a mostrar que, em determinadas circunstâncias, uma aquisição pode valer mais a pena do que uma relação contratual", afirmou Lazzarini.
A pesquisa de Holmström, que é professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), também revelou como incentivos corretos podem aumentar a eficiência de contratos.
Ele demonstrou que os contratantes (como um empregador) não conseguem observar todas as ações de um contratado (como um funcionário). Isso faz com que o resultado de uma relação contratual nem sempre atinja o que os economistas chamam de nível ótimo.
"O contratante vê o resultado final, mas, não necessariamente, o nível de esforço feito para chegar lá", disse Sergio Werlang, professor da FGV e ex-diretor do Banco Central.
"As pesquisas do Holmströn e do Hart mostraram a importância da adoção de incentivos apropriados para a obtenção de melhores resultados", completou o economista.
Holmström demonstrou, por exemplo, que a adoção de remuneração variável em algumas circunstâncias pode funcionar bem, mas precisam ser bem reguladas.
Werlang ressalta que os problemas que levaram à crise financeira global de 2008 mostraram que as teorias de Hart e Holmström continuam atuais. Segundo ele, como os gestores e os executivos das instituições financeiras não estavam sujeitos, por contrato, a também sofrerem perdas significativas relacionadas aos produtos que vendiam, fizeram transações arriscadas demais.
"Foi um caso de desalinhamento grande entre os incentivos que eram dados aos executivos e os interesses dos demais envolvidos", afirmou.
REAÇÃO
De forma geral, a comunidade acadêmica reagiu ao anúncio do Nobel destacando que já era hora de Hart e Holmström serem laureados.
"Hart e Holmström tão obviamente mereciam que meu primeiro pensamento foi 'eles já não tinham [sido premiados]?'", escreveu Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia em 2008, no Twitter.
Após o anúncio da premiação, Hart escreveu na conta do Twitter do Prêmio Nobel que acordou às 4h40 da manhã e "ficou se perguntando se estaria ficando muito tarde para ser neste ano, mas então o telefone, felizmente, tocou".
Já o finlandês Holmström disse: "certamente não esperava isso, pelo menos não desta vez, por isso fiquei muito surpreso e muito feliz".
Os dois premiados dividirão o prêmio de 8 milhões de coroas suecas (quase R$ 3 milhões).
Diferentemente dos prêmios em áreas como Química, Física e Medicina, o Nobel de Economia não foi criado por vontade do empresário sueco Alfred Nobel -o inventor da dinamite-, logo após sua morte em 1896. A premiação foi criada em 1968 pelo banco central da Suécia.
2015
No ano passado, o escocês Angus Deaton, 69, recebeu o prêmio por seus estudos sobre consumo, pobreza e bem-estar social. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (12) em Estocolmo pela Academia Real Sueca de Ciências, responsável pelo premiação.
Deaton, que possui nacionalidade britânica e norte-americana, é professor de Economia e Relações Internacionais na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.
PhD em Economia pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, recebeu o prêmio por três pesquisas relacionadas, conduzidas ao longo de sua carreira acadêmica. A primeira, feita nos anos 1980, criou um modelo para estimar a demanda por diferentes tipos de bens, dada a renda dos consumidores.
Com ele, é possível, por exemplo, medir os efeitos de uma elevação ou redução de impostos sobre o consumo pessoal e, então, determinar os grupos sociais mais afetados pela medida.
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