Com a elevação do nível de renda do brasileiro e a ascensão das classes mais baixas (C, D e E), os mercadinhos e supermercados de bairros estão aumentando a variedade e a qualidade dos produtos. Os comerciantes estão correndo contra o tempo nessa adaptação, mas nem todos conseguem sucesso.
O superintendente da Associação Mineira de Supermercados, Adilson Rodrigues, diz que foi ampliado o mix dos produtos - a diversidade do que é ofertado para o consumidor em um mercado.
- Consumidores que tiveram a renda aumentada estão buscando novas experiências. A loja que não atender às novas expectativas, perde o freguês.
Ele diz que a reformulação do mix é uma tendência, mas ainda sem fórmulas acabadas.
- As pesquisas de mercado mostram que está acontecendo uma mudança, mas não será de um dia para o outro.
De acordo com o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Sussumu Honda, as classes C, D e E sempre foram as que mais consumiram nos supermercados. Ele lembra que o carrinho de compras desse grupo era composto basicamente por produtos essenciais.
- Hoje, a cesta de compras das classes média e baixa já inclui produtos de maior valor agregado e supérfluos.
Segundo Honda, uma das mudanças mais visíveis no padrão de consumo é o aumento da compra de produtos ligados à saúde e à estética pelas classes ascendentes.
- Produtos light e de cuidados pessoais ganharam espaço. Isso também é reflexo da maior presença mulher no mercado de trabalho.
A dona de casa Terezinha Lúcia de Assis, 61, é uma dessas consumidoras que aumentou seu leque de compras. Seu marido, pedreiro, está trabalhando mais e ganhando melhor, e isso modificou os hábitos de consumo do casal.
- Ainda sou pobre, mas como carne todo dia. Antes não tinha dinheiro para comprar nem picolé, e agora compro pote de sorvete.
A Mercearia do Moreira, que fica na região de Venda Nova, em Belo Horizonte, é exemplo de adaptação. Para isso, o proprietário, Eduardo Fernando Moreira, conta com a ajuda dos consumidores.
- Anoto os produtos que o cliente procura num caderno e busco na próxima semana. Assim, vou formando meu mix de acordo com o que as pessoas pedem.
O estabelecimento existe há 20 anos e passou por duas ampliações do espaço físico. Segundo Moreira, apesar de o lugar ser pequeno, ele tenta oferecer aos clientes variedade de produtos.
- De agulha a botão, aqui tem de tudo um pouco. Cosméticos, carnes, produtos básicos, tudo é encontrado aqui.
Com isso, ele consegue manter uma clientela fixa. Para se ter ideia, só pessoas que compram e anotam na caderneta são 120.
O gerente comercial do Supermais, Diogo Pertence, explica que o aumento de consumo das classes C, D e E se refletiram principalmente nos supérfluos.
- Essas pessoas querem comer bem. Se antes elas tomavam só cervejas normais, hoje elas compram as especiais, que são muito mais caras. Se uísque antes era coisa de rico, agora é vendido para todo mundo. Essas bebidas tiveram aumento de 50% nas vendas se compararmos com dois anos atrás.
Ele conta que outra mudança no padrão de consumo são as compras em pequenos volumes.
- São raras as pessoas que vão ao supermercado e compram para estocar. Se antes compravam cinco pacotes de arroz, agora compram um e voltam ao supermercado mais vezes ao mês.
Apesar dos esforços do setor supermercadista, muitos estabelecimentos ainda deixam a desejar quando o assunto é diversificação de produtos. A aposentada Antônia de Jesus Evangelista de Souza, 62, conta que o único supermercado que existe no bairro Vera Cruz, onde ela vive, não tem opções diferenciadas.
- Tem coisas que a gente procura e não acha. Parece que eles pensam que pobre não come direito. Outro dia tentei comprar champignon para colocar no estrogonofe e não tinha. Se a gente procura uma carne diferente, não achamos.
Antônia chegou a perguntar para o gerente do supermercado a causa dessa falta de diversificação e ele respondeu a ela que a demanda por produtos diferentes era pouca no bairro dela.
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