2 - Preço do minério vai reagir com oferta menor no 2º semestre, prevê Vale

PEDRO SOARES
RIO DE JANEIRO, RJ - O desempenho da Vale no primeiro e no segundo trimestre foi limitado pela queda no preço do minério de ferro no mercado, que ficou abaixo de US$ 100 a tonelada. De abril a junho, o lucro da companhia caiu 46% para R$ 3,2 bilhões.
A análise é do diretor-executivo de estratégia e ferrosos da companhia, José Carlos Martins.
A queda no preço decorre de uma maior oferta do produto em escala global nos seis primeiros meses do ano, com acréscimo de produção de 90 milhões de toneladas -volume quase equivalente a um terço da extração anual da Vale.
Segundo o executivo, o "preço de equilíbrio" do minério de ferro é de cerca de US$ 110 a tonelada.
Abaixo desse valor, diz, muitos produtores deixam o mercado por terem custos mais elevado e não conseguirem operar com esse preço.
RETOMADA
Esse fator (a saída de competidores do mercado), um crescimento menor oferta adicional no segundo semestre (50 milhões de toneladas) e um demanda um pouco mais aquecida fazem Martins crer numa retomada "moderada" dos preços até o fim do ano.
Na média do primeiro semestre, a Vale estimou em US$ 109 o valor da tonelada de minério de ferro.
"Não ficou muito fora do preço de equilíbrio, mas esperamos uma recuperação no segundo semestre em grande medida pelo menor acréscimo da oferta."
Apesar de um cenário de preço não animador, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse que a companhia irá manter seu ritmo de expansão da produção e sua meta de extrair 312 milhões de toneladas está mantida.
"Isso é apenas um piso. Devemos produzir mais."
No primeiro semestre, a produção subiu 12% e atenuou o efeito dos preços mais baixos, o que evitou um desempenho pior da Vale.
PERDA
Segundo Ferreira, a Vale registrou em seu balanço, "conforme exigem as regras", uma perda de R$ 1,7 bilhão no segundo trimestre em decorrência especialmente do projeto, suspenso, de uma mina na Guiné.
O executivo disse que o valor corresponde a US$ 500 milhões pagos inicialmente ao sócio do projeto, a empresa israelense BSG, que vendeu à Vale 51% de uma reserva gigante de minério de ferro no país.
A Vale espera reverter essa perda porque discute ainda na câmara arbitral de Londres o caso e crê numa vitória nesse litígio. Outros US$ 700 milhões foram investidos em máquinas, equipamentos e obras no projeto.
Nesse caso, a Vale acredita que o investimento será devolvido ou virá como um "crédito" no novo leilão para a concessão dessa área, cuja data não foi ainda marcada.
"Podemos entrar nesse leilão, mas primeiro precisamos conhecer as regras", disse Ferreira.
PERSPECTIVA FAVORÁVEL
Para a corretora Concórdia, a Vale apresentou, do ponto de vista operacional, "mais um trimestre de resultados consistentes", apesar da queda do preço do minério ter pesado negativamente sobre o desempenho da empresa, também afetado pela perda contabilizada em razão dos investimentos na Guiné.
Segundo os analistas da corretora, o fluxo de caixa da companhia seguirá com perspectiva favorável diante de "o preço do minério permanecer em patamar sustentável" -ou seja, ao redor de US$ 110, como na média do primeiro semestre- e os custos continuarem controlados.
Além disso, prevê a Concórdia, a companhia manterá a estratégia de vendas ativos não estratégicos, o que também reforçará seu caixa neste ano. A Vale definiu como seu foco principal o aumento da produção de minério de ferro.
A corretora Coinvalores afirmou, em relatório, que o preço do minério e o câmbio afetaram negativamente o resultado da Vale, mas o "extraordinário desempenho da produção" mitigou esses efeitos.
"A companhia conseguiu entregar bons números mesmo em meio a um cenário mais desafiador em termos de preços", diz a corretora.