O chamado “vape de vitaminas”, um cigarro eletrônico que promete benefícios à saúde, ganhou o noticiário recentemente. No início deste mês de fevereiro, a Anvisa [1] emitiu uma nota em que reforça que a comercialização desse tipo de produto é proibida no Brasil e que não há comprovação científica dos supostos resultados positivos. O posicionamento da agência de fiscalização fez muita gente questionar quais são, afinal, os efeitos do “vape de vitaminas” sobre o corpo. Para esclarecer essas dúvidas, conversamos com o pneumologista Dr. João Carlos de Jesus.
O médico pontua que não há, de fato, nenhuma comprovação de benefícios associados ao vape de vitaminas. De acordo com ele, o uso desse tipo de equipamento pode, inclusive, causar danos graves. “O vape é um dispositivo para inalar fumaça com diversas substâncias, como nicotina. É dito que o vape é mais seguro do que o cigarro comum, o que é uma informação muito imprecisa”, explica.
O funcionamento do dispositivo consiste no aquecimento de produtos líquidos, que vaporizam rapidamente. A base utilizada para a mistura costuma ser o propilenoglicol, que se soma a outras substâncias como a nicotina e produtos que geram sabor. "O grande problema é que, ao serem aquecidas, essas moléculas se transformam”, alerta o médico. Um dos principais subprodutos é o formaldeído, substância tóxica e cancerígena, encontrada na fumaça do vape em concentrações maiores que na fumaça de um cigarro comum. “A recomendação é que se dê aos pulmões o que é bom: ar puro”, aponta especialista.
O principal risco à saúde em decorrência do uso de cigarro eletrônico, segundo Dr. João Carlos, é a pneumonia associada à inalação de produtos químicos, que pode levar inclusive à morte. Essa doença se chama IVALE, sigla em inglês que significa algo como “lesão aguda dos pulmões causada pelo cigarro eletrônico”. “Esse dano pulmonar pode levar a cicatrizes permanentes. A longo prazo, a inalação desses produtos também pode gerar reações inflamatórias que se manifestam tardiamente”, detalha.
Ao contrário dos estudos sobre o tabaco, que já são feitos há cerca de 100 anos, as pesquisas sobre os efeitos do vape ainda são muito recentes, o que dificulta a obtenção de dados estatísticos sobre os malefícios causados por esse tipo de equipamento. No entanto, o pneumologista destaca que os médicos já sabem que as substâncias presentes no vape são tóxicas e que já existem vários casos documentados de danos à saúde produzidos pelo cigarro eletrônico. Ele cita como exemplo um surto de pneumonia, ocorrido em 2019 nos Estados Unidos, que foi associado ao uso de vape com vitaminas. Na ocasião, mais de 3 mil casos foram confirmados e houve cerca de 70 mortes “Essa foi uma das justificativas pelas quais a Anvisa rejeitou a aprovação do vape aqui no Brasil”, relembra.
Cigarro eletrônico e o tabagismo
O pneumologista Dr. João Carlos de Jesus explica que o hábito de usar o vape, ou cigarro eletrônico, está inserido no contexto do tabagismo. De acordo com ele, o critério clássico para definir quem é tabagista (consumo de mais de cinco maços) não se aplica bem aos usuários de cigarros eletrônicos, que também devem ser incluídos nesse grupo. “Muitos adolescentes e jovens nunca fumaram tabaco e usam vape. Outras pessoas foram fumantes de tabaco e agora passaram aos dispositivos eletrônicos. Mas todos são chamados ainda de tabagistas”, afirma.
O tratamento para todas essas formas de tabagismo, segundo o especialista, tem como objetivo resolver dois problemas: a dependência de nicotina e o hábito de fumar. “A pessoa que fuma diariamente passa por uma adaptação à presença da nicotina em seu cérebro. Quando esta se faz em menor quantidade, gera uma série de sensações e desconfortos, uma crise de abstinência pela falta daquela substância”, detalha.
Quanto ao hábito de fumar, o médico explica que é preciso elaborar estratégias para lidar com a rotina e remover o cigarro do dia a dia. Ele lembra, que, para muitas pessoas, o fumo está associado ao lazer ou ao repouso. “É muito comum que o tabagista passe a fumar sem perceber quando se sente cansado, estressado ou ansioso”, afirma. Essas associações, segundo o médico, também devem ser trabalhadas no tratamento.
Para alguns, ele destaca, a maior dificuldade é lidar com a dependência de nicotina, enquanto para outros o problema maior é a dificuldade de alterar o hábito. “O tratamento do tabagismo visa a trazer reflexões ao paciente, para que ele tenha uma mudança de pensamento e de postura em relação ao uso do cigarro. Essa abordagem é muito particular e cada paciente deverá discutir as estratégias com o seu médico”, conclui.
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