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Temporada de incêndios desafia Serra do Amolar

As cicatrizes do incêndio sem precedentes registrado no Pantanal mato-grossense em 2020 ainda estão por todo lado. Árvores carbonizadas ou secas e quantidade menor de pássaros e outros animais na região da Serra do Amolar, a mais atingida pelo fogo naquel

Cleide Silva* (via Agência Estado)

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Escrito por Cleide Silva* (via Agência Estado)
Publicado em 25.07.2022, 07:00:00 Editado em 25.07.2022, 07:08:15
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As cicatrizes do incêndio sem precedentes registrado no Pantanal mato-grossense em 2020 ainda estão por todo lado. Árvores carbonizadas ou secas e quantidade menor de pássaros e outros animais na região da Serra do Amolar, a mais atingida pelo fogo naquele ano, indicam que, apesar de sua grande capacidade de regeneração, a floresta e a fauna vão levar anos para uma recuperação completa.

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Em agosto, quando a temporada de seca se intensifica, há riscos de novos incêndios mas, desta vez, a Serra do Amolar está mais preparada.

Para que a tragédia não se repita, desde o ano passado foram feitas ações como a criação de uma brigada permanente de combate a incêndios e, mais recentemente, a instalação de câmeras que monitoram focos de fumaça.

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O incêndio de dois anos atrás começou em setembro e atingiu mais de 90% da Serra do Amolar, área protegida de 300 mil hectares entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, onde está o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense. Foram estimados 17 milhões de animais vertebrados mortos, principalmente répteis, e perda de 742 mil árvores.

À impressão, ao percorrer hoje a Serra do Amolar, é de que a maior parte da área queimada se recuperou. Há muito verde, principalmente nos entornos do Rio Paraguai, que atravessa a região. A nova flora, contudo, em sua maioria são cipós e vegetação primária, explica Ângelo Rabelo, presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organização que há 20 anos atua na preservação da Serra do Amolar.

"Grande parte das espécies demora de 10 a 20 anos para se recuperar", diz Rabelo. Como o fogo foi também subterrâneo, diversas sementes desapareceram. A equipe do IHP conseguiu recuperar algumas delas, em parceria com a ONG Nós Fazemos o Clima (NFC), e hoje mantém um viveiro de mudas de árvores frutíferas aguardando a época certa para o plantio.

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TEMPORADA DE SECA. Com a intensificação da temporada de seca a partir de agosto, e vários focos de incêndios já detectados em todo o Pantanal (leia ao lado), o alerta está ligado.

"O que aconteceu há dois anos não vai se repetir", acredita o brigadista Manuel Garcia da Silva, que acompanha o grupo de combate ao fogo criado pelo IHP.

No ano passado já houve importante avanço, com registro de apenas 7% de área queimada na região. A Brigada Alto Pantanal foi formada em meio ao incêndio provocado por ação humana num momento de seca histórica, ventos fortes que ajudaram na sua propagação e focos vindos de diferentes regiões, incluindo da vizinha Bolívia.

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A equipe é formada por brigadistas locais que conhecem o terreno e sabem como se movimentar. Em 2020, vários Estados enviaram brigadistas, mas eles não conheciam a área e, por isso, demoravam para chegar aos focos do incêndio.

A região conta também com o Sistema Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PrevFogo), do Ibama, criado pelo governo federal após o grande incêndio.

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Nos últimos meses, a brigada do IHP tem feito aceiros - limpeza de faixas de áreas no meio da mata para evitar que o fogo passe de um lado para outro e que também servem para a fuga de animais.

Outra parte visita as comunidades e fazendas vizinhas para alertar sobre a prática de queima de pasto para a pecuária. Segundo Rabelo, os pantaneiros sempre manejaram o fogo em áreas de pastagens, mas sabem a época correta para fazer isso. Já os proprietários novatos de terras não são familiarizados com a técnica.

CÂMERAS. Uma das mais importantes ferramentas que o IHP acaba de implantar são cinco câmeras de alta definição instaladas em torres de comunicação. Elas operam com inteligência artificial e detectam, em no máximo três minutos, o surgimento de focos de calor e fumaça. Um alerta é enviado à central, na sede do instituto, em Corumbá (MS), e a área passa a ser monitorada.

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"Sabemos o local exato onde está o foco e avisamos as equipes de brigadistas mais próximas, voluntários e pessoal das fazendas do entorno para estarem prontas para irem ao local", informa Josiel Coelho, técnico do IHP que acompanha as telas de monitoramento das câmeras.

Os equipamentos acompanham um raio de 70 mil hectares ao redor do Parque Nacional. Antes, com o uso apenas de satélites, o fogo era detectado apenas 3 a 6 horas depois de seu início. Com a dificuldade de mobilização, feira normalmente por barcos, às vezes as equipes de combate chegavam ao local dias após o início do incêndio.

O inédito sistema de câmeras, chamado de Pantera, foi desenvolvido pela startup umgrauemeio, com sede em Jundiaí (SP). Osmar Bambini, um dos fundadores da empresa, afirma que, juntando outras áreas do Pantanal, como a do Sesc Pantanal, há 11 torres com câmeras nessa região.

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"Com 28 câmeras seria possível cobrir todas as áreas críticas do Pantanal, cerca de 2,5 milhões de hectares", diz Bambini. Mas, para isso, seria necessária ajuda financeira para aquisição do sistema. As 11 já instaladas são financiadas pela JBS, um investimento de R$ 8 milhões.

A umgrauemeio trabalha agora no desenvolvimento de um sistema de modelagem do fogo, que vai prever para onde ele vai e em qual velocidade.

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Outro projeto é promover a integração entre o Pantera e drones. "Com isso, é possível acompanhar o trabalho dos brigadistas e até transportar água para ajudar no combate com o uso de drones de grande porte", afirma Bambini.

PATROCÍNIOS. Criado em 2002 por Rabelo, o IHP é mantido por doações de pessoas físicas e privadas e participa de licitações de projetos do governo e de empresas.

Além de atuar na preservação e no combate a incêndios, o IHP mantém os projetos Cabeceiras do Pantanal (de preservação e gestão de nascentes de rios), Amolar Experience (de ecoturismo sustentável) e Rede Amolar (parceria entre instituições privadas, governamentais e ONGs voltada à proteção e preservação da biodiversidade e da cultura da região).

Outro projeto é o Felinos Pantaneiros, para preservação da onça-pintada, que está na lista de risco de extinção. O Felinos tem apoio do Banco BTG Pactual e, desde maio, também da General Motors, com doações financeiras e de uma picape S10 para o trabalho de campo da equipe do instituto.

Nesta semana, a GM anunciou parceria também com a Conservação Internacional (CI-Brasil) para a restauração da Floresta Amazônica na região de Tapajós, com ajuda financeira e cessão de duas picapes S10.

O instituto se prepara para iniciar a venda de créditos de carbono baseados nos projetos que evitaram o desmatamento da região, assim como a preservação da onça-pintada, animal que, por estar no topo da cadeia alimentar e precisar de grandes áreas preservadas para sobreviver, é indicador de qualidade do bioma. (Viagem a convite da GM)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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