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'Sem uma Reestruturação, hospital São Paulo morre em meses', afirm Nacime Mansur

O médico Nacime Salomão Mansur assumiu a superintendência do Hospital São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em fevereiro, com a meta de promover uma "operação salvamento". Mergulhado em crise financeira agravada na pandemia, o hospita

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 03.04.2022, 20:32:00 Editado em 03.04.2022, 20:40:17
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O médico Nacime Salomão Mansur assumiu a superintendência do Hospital São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em fevereiro, com a meta de promover uma "operação salvamento". Mergulhado em crise financeira agravada na pandemia, o hospital é alvo de frequentes protestos de pacientes, médicos e funcionários. Eles reclamam das más condições do pronto-socorro, da falta de remédios e outros insumos e da redução de pessoal promovida nos últimos dois meses. Em sua primeira entrevista no cargo, Mansur falou ao Estadão sobre a penúria da instituição e o plano de reestruturação.

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Qual é a situação do Hospital São Paulo (HSP)?

O hospital é referência de alta complexidade e um difusor de conhecimento importante. Com tantas dificuldades orçamentárias, acumulou dívidas para manter a prestação de serviço. Hoje tem volume de atendimento menor e segue com dificuldade operacional.

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Qual é o orçamento atual?

É de R$ 22 milhões por mês, muito aquém da necessidade de um hospital desse porte, com cirurgias de alta complexidade e demanda grande de insumos, medicações, órteses e próteses etc. O custo mensal é R$ 30 milhões. Todo mês há déficit de ao menos R$ 8 milhões. Atualmente, a dívida deve estar em cerca de R$ 450 milhões. A pandemia causou desequilíbrio maior. Houve mais gasto com insumos, EPIs (equipamentos de proteção) etc. O preço de alguns produtos e medicações aumentou cerca de 800%. Também gastou muito com a contratação de pessoal. Mais de 100 leitos de UTI foram abertos. O hospital tem cerca de 800 leitos. Por causa da crise, só metade está em funcionamento. Tomamos medidas para enquadrar o hospital no orçamento, como controlar o uso de insumos e readequações de recursos humanos.

Médicos e funcionários falam em centenas de demissões. Quantas foram?

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200 demissões. Nada foi feito sem critério. Tudo foi balizado pela importância das áreas e a necessidade assistencial. Se não fizermos isso, o hospital morre em poucos meses.

Haverá mais demissões?

Ainda não sabemos. Vamos estudar o impacto do que já foi feito e analisar. Precisamos fazer o hospital renascer. Há todo um projeto de reestruturação e reconstrução para manter a sustentabilidade.

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O que são essas medidas estruturantes? O que muda?

A gestão vai mudar. Estudamos, por exemplo, medidas para melhorar a disposição de leitos. Não podemos permitir a existência de UTI com só quatro leitos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina um médico e uma enfermeira para cada 10 leitos, e uma auxiliar para cada dois. Se há só quatro leitos, temos perda de mão de obra que poderia ser melhor usada. Estamos tentando juntar algumas enfermarias para mudar a lógica da distribuição de leitos. Queremos voltar a ter 800 leitos, mas não dá sem financiamento adequado e custo-benefício definido. O pronto-socorro estava em penúria.

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Como é essa penúria?

Há muitos anos não se tinha reforma. Outros hospitais universitários vivem dilema semelhante porque a vocação do hospital universitário é o ensino. Mas acabam assumindo carga assistencial mais pesada do que seria capazes.

O pronto-socorro deixou de funcionar pelo sistema de porta aberta. Por quê?

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Durante alguns anos, a porta de entrada para esses pacientes funcionava em uma estrutura embaixo do nosso pronto-socorro. Em agosto, as instalações da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Mariana foram inauguradas a dois quarteirões do hospital. Com isso, a porta de entrada da instituição ficou sendo a UPA. Para algumas especialidades, como oftalmologia, otorrinolaringologia e outras, o hospital ainda é porta aberta. Para outras, aceita só pacientes referenciados por outros serviços.

Dos grandes hospitais públicos da cidade, restam poucos que funcionam de porta aberta, o que dificulta o acesso. Por que precisa ser assim?

A vocação do Hospital São Paulo é a alta complexidade. O pronto-socorro de demanda espontânea traz consigo uma baixa complexidade, pacientes não estão adequados ao perfil do hospital. Se não for assim, trazemos uma população imensa com dor de barriga ou de garganta. Mais de 90% dos atendidos têm problemas que poderiam ser resolvidos em unidades que não precisam ter a estrutura cara dos hospitais terciários e quaternários.

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Pacientes reclamam de falta de remédios. Continua?

Começamos a fazer reestruturação da logística, reduzimos essa dificuldade e estamos tentando manter o hospital até que ter caixa para pagar fornecedores. Hoje não há falta de produtos fundamentais. Quando começar a faltar, conseguimos acionar rapidamente os fornecedores.

Como é composto o orçamento do hospital?

O dinheiro vem principalmente do faturamento SUS (remuneração referente a internações, consultas e serviços prestados), de incentivos que recebe e da contratualização de metas assistenciais com o governo estadual. E de algumas outras verbas de pequena monta ligadas a pesquisas. O hospital não recebe verbas do Ministério da Educação, mas há servidores estatutários da Unifesp.

O HSP parou de receber um recurso do Ministério da Saúde. Foi revertido?

Estamos na Justiça. Anteriormente, a instituição recebia recurso do Programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), da Saúde. Em 2017, um ex-ministro (Ricardo Barros) suspendeu esse pagamento. O argumento foi o de que o hospital não era estatal. Uma argumentação frágil. Na essência, ele é privado porque é da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), mas é um hospital universitário da Unifesp: coabitação que sempre funcionou, desde 1956. Quem são os proprietários da SPDM? Professores titulares da Unifesp. A crise se agravou a partir da retirada do Rehuf, da ordem de R$ 3 milhões por mês.

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